Coréia do Norte – Uma visão histórica para compreender o presente - Estado Alterado

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terça-feira, 13 de março de 2018

Coréia do Norte – Uma visão histórica para compreender o presente

A carência de informações e, de certa forma, até mesmo desinformações (principalmente nas redes sociais), sobre a República Popular Democrática da Coréia do Norte (RPDC) leva muitas pessoas (inclusive dentro da esquerda) a cair na armadilha ideológica, orquestrada de forma a demonizar ou ridicularizar o país. Se fala em um país totalmente atrasado, arrasado pela fome e pela violência ditatorial de um líder lunático. Porém, quando analisamos mais friamente o contexto em que o país se encontra e a sua trajetória, encontramos uma realidade diferente da caricaturada que estamos acostumados.

- Escrito por Ramon Carlos


A exemplo, Pyongyang é uma cidade limpa, organizada composta por prédios que combinam uma charmosa arquitetura inspirada nos tempos soviéticos com um ar futurístico e único, como a torre Ryugyong, além de vários parques de diversão, escolas e hospitais públicos, avenidas largas e os famosos monumentos de seus líderes fundadores e símbolos do regime.

Vista da capital Pyongyang

A RPDC está geograficamente encravada entre grandes potências. China, Japão, Rússia (antes, URSS) e Estados Unidos, se considerarmos o controle sobre a parte sul da península pelos americanos desde 1945. A parte norte da península coreana, ocupada pela RPDC é montanhosa e rochosa, com pouco solo cultivável mas com um potencial hidrográfico e minerador favorável, enquanto a porção sul é composta por planícies férteis e dois terços de sua população total (algo atualmente em torno de 50 milhões, contra 23 milhões no Norte).



A Coréia no Passado

A península coreana, devido a sua posição geográfica, sempre foi alvo de ambições por parte dos povos asiáticos, sejam chineses, mongóis, japoneses. Os relatos mais antigos são dos últimos séculos antes da era cristã, e mostram que várias dinastias chinesas tentaram absorver a península várias vezes, porém, repelidas. Por volta do século VII, o Rei de Silla unificou a Coréia com aval político do imperador chinês. Esta relação monárquica em relação a China durou até o século XX, mas deixando claro a autonomia coreana em seus próprios assuntos.

Depois da dinastia do Rei Silla, vieram as dinastias dos Koryo (918-1392) e dos Choson (1392-1910). Desenvolveram um alfabeto fonético em substituição aos ideogramas chineses além de textos budistas, desenvolveram astronomia e a geografia. (Cumings 1997)

Sob o comando do Rei Sejong a Coréia viveu um grande período no início do século XV, mas que também foi marcada por inúmeras invasões japonesas e manchus, que foram bravamente enfrentadas e vencidas. Mas estas constantes ameaças fizeram com que a Coréia de voltasse para si. Influenciada por teóricos budistas e confucionistas criaram uma sociedade completamente hierarquizada. A elite era formada pelos chamados sanrbans, um misto de latifundiário e juiz. As mulheres eram subordinadas aos homens e a economia repousava sobre os camponeses e escravos, outro fato que só mudou com a abolição da escravatura coreana em 1894.


Invasão Japonesa e a Primeira Guerra Sino-Japonesa
Para entendermos como se formou politicamente a estrutura da RPDC, temos de voltar algumas vezes à história.

Em 1876, o Japão ocupou a ilha de Kanghwa, visando disputar ativamente pela influência e pelo comercio no leste asiático. A Coreia, historicamente aliada da China, mantinha um envolvimento com a dinastia Qing chinesa, e o Japão, por sua vez, queria isolar estas duas e tornar a península seu satélite. Se aproveitando da fragilidade em que se encontrava a China após as Guerras do Ópio e as guerras sino-francesas, o Japão, intimidando militarmente a Coreia, fez com que a mesma assinasse o chamado “Tratados Desiguais” que davam direitos aos japoneses de abrirem a coreia economicamente ao ocidente, além de fiscalizar suas aguas, controlar o comércio e explorar minérios para abastecer sua indústria. (Cumings 1997)

Na década de 1880, várias revoltas marcaram um período onde grande parte da produção alimentícia, da península, principalmente de arroz, era destinada ao Japão.  O Japão via na Coréia uma posição estratégica de defesa, e deveria mantê-la longe de potenciais inimigos. A China interviu, mas o ambiente instável e com o fortalecimento japonês fez com que eclodisse a primeira guerra Sino-Japonesa. O Japão saiu vitorioso e sua influência imperialista sobre a Coreia aumentou.

Outra guerra que influenciou os rumos da península foi a Russo-Japonesa, que disputavam o controle da Manchúria. Esta guerra foi importante de várias formas, tanto enfraquecendo o regime de Nicolau II e abrindo brechas para a Revolução Bolchevique como colocando a península coreana sob controle definitivo dos japoneses, uma vez que o Japão derrotou as tropas russas em 1905. Com isso, o imperialismo japonês se consolidou de vez. O exército coreano foi dissolvido e substituído por uma polícia japonesa, e em 1910 foi consolidada em definitivo a anexação da Coréia ao Japão, acabando de vez com sua independência.

A colonização japonesa trouxe consigo uma contradição dialética, já que, mesmo trazendo certa modernização, como construção de ferrovias e áreas industriais, ela trazia consigo também a descriminação racial contra o povo coreano. Mas claro, como toda colônia, as reformas e modernizações são justamente para o bem estar da metrópole, enquanto os trabalhadores coreanos eram explorados dentro de seu próprio pais. (Visentini)

Durante a década de 1920, houve um grande desenvolvimento na agricultura, visando aumentar ainda mais a produção de arroz, e na década seguinte, 1930, forte industrialização, principalmente no norte, com objetivo de fornecer bens de capital às indústrias de defesa japonesas na guerra contra a China (durante a segunda guerra Sino-Japonesa). Este desenvolvimento tinha como finalidade, melhorar a vida na metrópole, e trouxe pouquíssimos benefícios para a população coreana. Neste período, a produção de arroz aumentou muito, e mesmo assim, o consumo deste pelos coreanos caiu na faixa de 30%, e gerou escassez de comida na península.

Movimentos Revolucionários

 Com a Revolução Bolchevique em 1917 e, também com influência dos movimentos revolucionários chineses, surgiram na Coreia seus próprios levantes, em 1919, inicialmente visando sua independência, ao custo de 7.500 mortos e 45 mil detidos, na contagem dos coreanos.

Houveram algumas conquistas, cedidas pelo japonês após pressões internacionais, e através da “Bunka Senji” (Política cultural) ampliou a educação para que chegasse até os demais coreanos, substituiu o governo completamente militar por um civil e deu uma liberdade de imprensa maior aos jornais essencialmente coreanos. Cidadãos coreanos tiveram acesso a universidades e academias militares, podendo até fazer carreira no Exército da Manchúria, como aconteceu com o futuro ditador da Coréia do Sul, General Park Chung-hee. Esta pequena abertura foi o suficiente para que os coreanos conseguissem se organizar, e fez com que surgissem os primeiros grupos nacionalistas, comunistas e socialistas, de forma exposta ou clandestina.

Mesmo sob domínio japonês, a china teve uma influência muito grande politicamente e ideologicamente sobre os coreanos e a aliança política que tiveram no passado, principalmente durante a dinastia Choson (coreia), aliada da dinastia Ming (china), continuaram contra os japoneses, mas de maneira indireta. A parte norte da península sempre fora mais marginalizada política e economicamente, uma vez que as terras cultiváveis estiveram sempre a sul, contrastando com o nortenho terreno rochoso e montanhoso, além de serem virtualmente excluídos da cúpula mais alta do governo. Isto explica sua maior radicalidade e mostra também a divisão já no século XIX e XX da península, onde o norte concentrava a indústria pesada e mineração e apenas 16% das terras cultivaveis, enquanto o sul era responsável direta pelos alimentos e bens de consumo.

Do outro lado da fronteira, na década de 20, a China passava por certa instabilidade política e uma polarização ideológica, após um governo entre a aliança do partido nacionalista chinês e o partido comunista de MAO. Com a morte do líder do partido nacionalista e a derrota do inimigo "os senhores da guerra", a china entrou em guerra civil em 1927. Partindo disso, na década de 30, os japoneses anexaram também a Manchúria.

Após colapsos financeiros, os processos keynesianos praticados pelo Japão trouxeram para os coreanos uma certa participação maior, já que tinham uma grande população na Manchúria devido as constantes imigrações nas décadas anteriores, e até mesmo certa presença empresarial. (Visentini) Mas a região recém ocupada traria algumas dores de cabeça aos japoneses, e as resistências anti-japonesas na Manchúria foram muito importantes para se entender a coreia de hoje. A aliança entre os coreanos e chineses que lutaram em guerrilhas contra os japoneses na Manchúria e o surgimento da figura de Kim Il Sung, são as principais doutrinas que legitimaram a RPDC. O regime japonês colonial dizimou os guerrilheiros, mas um novo surto sobreveio após a anexação do território. Mais de 200 mil combatentes, chineses e coreanos, coordenados entre si, estiveram ativos na Manchúria, no início da anexação em 1931. Já para o fim da década eram uns poucos milhares, com os coreanos como os mais ativos. Foi nesse meio que emergiu Kim Il Sung, o futuro lider da Coréia do Norte Os coreanos veem nessa parte importante da história como seu momento fundador do exército e a sua liderança.

Em 1937, o Japão lança uma "política de assimilação", impondo aos coreanos o idioma japonês, com um slogan "Japão e Coréia soa um só". Além do idioma, a religião e cultura também deveriam ser impostas pelos japoneses. Esta política ajudou a inflamar ainda mais os ânimos na península. Mesmo com relações entre coreanos e Chineses, estes não estavam sob seu domínio, nem da URSS, e visavam primeiramente e principalmente a libertação da península das mãos dos japoneses, e em 1937 começaram as insurgências contra a polícia japonesa, o que gerou um contra-ataque por parte dos japoneses.

Mais do que qualquer coisa, naqueles anos, os coreanos precisavam de uma unidade e identificação nacional. Kim Il Sung foi visto como um herói nacional na luta anti-japonesa. Sua figura estava mais atrelada ao ideal nacionalista do que ao projeto socialista e, além disso, a industrialização bem sucedida da URSS foi vista com bons olhos pelos nacionalistas coreanos, e fez com que se identificassem com seus conterrâneos comunistas.

Vem então a Segunda Guerra Mundial. Durante este período, o Japão explorava ainda mais as riquezas de sua colônia, necessita e explora ainda mais mão de obra para abastecer sua indústria militar e de defesa, explora sexualmente as mulheres coreanas (principalmente para oficiais do exército) e obriga seus colonos ao serviço militar auxiliar. A península coreana e o nordeste da China se tornam uma praça industrial militar a serviço japonês, uma posição estratégica, já que estaria imune à um ataque ao território japonês.

Com a rendição alemã na Europa, o Japão foi o último a se render. E fez isso após a URSS derrotarem os japonese em agosto de 45, na parte continental do oriente asiático, simultaneamente com as bombas atômicas americanas na ilha japonesa nas cidades de Hiroshima e Nagasaki.
Um mês depois, no dia 6 de setembro, os comitês revolucionários da península proclamaram a republica popular. Dois dias depois, as forças americanas de ocupação desceram em Inchon, o porto de Seul, no dia 8 de setembro de 1945, desfazendo comitês.

Com o norte ocupado pelos soviéticos e o sul pelos americanos, e em um acordo entre os soviéticos e americanos foi traçado uma divisão no paralelo 38 por dois coronéis americanos. Linha escolhida unilateralmente pelos EUA poucos dias antes. Entra então a figura de Sygman havia vivido 20 anos de sua vida nos EUA e foi escolhido a dedo pelos americanos. Era anticomunista e anti-japones, o que não impediu os EUA de manterem unidades politicas pro-japonesas no sul do paralelo 38.

No norte, permaneceu a Republica Popular sob comando de Kim Il Sung, que combateu ao lado dos soviéticos na segunda guerra e teve participação no PCCh (Partido Comunista Chinês). O norte ainda contou com os comitês populares que não foram dissolvidos pelos ocupantes (URSS), diferente do ocorrido ao sul, onde os americanos haviam proibido.

Entre os anos de 1945 e 1946, o norte foi amplamente influenciado pelos comitês, mas em 1947, a influencia soviética já era marcante por conta de um governo provisório. Os laços entre a parte setentrional da Coreia e a China ganharam forca no último ano da década, após a saída dos soviéticos.

Como avalia o historiador americano Bruce Cumings [1997], a Coréia se assemelhava a Iugoslávia e a Romênia no bloco leste europeu, que conseguia manter uma identidade nacionalista, diferente de outros países do Pacto de Varsóvia. Também diferente de alguns estados do leste europeu, a Coréia do Norte nunca teve um comando central soviético, e o governo provisório fazia uma espécie de governo misto junto aos comitês populares, que agora contavam com os ex exilados comunistas que retornavam após o fim da guerra e derrota japonesa. Em contrapartida, os americanos tinham total autoridade sob o território sul da península.

Em 1945 o partido comunista coreano foi reinaugurado, unindo os Leninistas ortodoxos com os nacionalistas com uma proposta de coalizão política ampla para reunificar o país. O partido começou a eliminar os vestígios feudais e coloniais da estrutura do pais, e a união entre a libertação nacional e a revolução proletária criaram uma espécie de nacionalismo proletário, e portanto, a Coréia seguiu um pouco mais de perto o Maoísmo do que o Leninismo soviético, exceto pelo tomada de decisões, que  diferente do Maoísmo, Kim Il Sung achava que a tomada de decisões deveria vir de cima para baixo, como na URSS, e mesmo sendo populista, não tinha os exageros espontâneos da China revolucionaria.

O partido comunista coreano e o Novo partido Popular coreano, cujos membros lutaram na revolução chinesa, se uniram, formando o chamado Partido do Trabalho da Coreia (PTCN). Com o tratado de Moscou, que daria certo controle do país para os soviéticos gerou revolta por parte dos nacionalistas, e com a prisão do líder do movimento nacionalista conservador Cho Man Sik, Kim convocou uma conferência com os membros dos principais partidos coreanos, e por unanimidade, conseguiu implantar uma administração central de governo em 1946, com o nome de Comitê Popular Provisório da Coreia do Norte (CPPCN).

Após eleições, o PTCN teve grande maioria, e Kim passou a pôr em pratica seu regime, começando com perseguições aos cristãos e outras entidades políticas. Este início também foi marcado pela reforma agraria e assim consolidação do regime, de forma que, ao contrário da China e outros países que fizeram reformas agrarias sangrentas, a Coréia do Norte deu aos latifundiários a opção de fugir para o sul ou se mudarem para outra província e receber a mesma quantia de terras que os outros agricultores. Então, no dia 9 de setembro de 1948, é proclamada a República Popular Democrática da Coréia, três semanas após o sul ter se declarado como República da Coréia, e Kim Il Sung declarado primeiro-ministro, e assim, a URSS retirou suas tropas no final de 1948.

O sul, durante este período também realizou perseguições aos grupos de esquerda e aos comunistas e eliminando centros alternativos de poder. Sob o comando de Syngman Rhee, o sul foi responsável pelo Massacre das Ligas Bodo, que é desde 2008 considerado como crime de guerra, onde morreram entre 100 mil e 200 mil pessoas entre comunistas, simpatizantes ou adversários políticos de Rhee. Como escreve Cumings (1997):

Nem o Norte nem o Sul tiveram escrúpulos na hora de utilizar a violência para fins políticos, mas o norte tendeu a ser mais seletivo, em parte, em razão de seus inimigos serem classes e grupos numericamente pequenos e, em parte, por causa de sua prática política, cultivada talvez na experiência política da liderança coreana junto ao comunismo chinês, do qual aprendeu técnicas de reeducação e reforma dos dissidentes políticos.

A proclamação da RPDC também serviu de resposta à proclamação do sul em República Coreana, fato que não agradou o Norte, que, como um movimento revolucionário anti-imperialista não admitia que uma República Coreana fosse proclamada pelos EUA. Portanto, a RPDC nasce também com a ideia de unificação, que, devido às circunstancias, só seria possível pela força. Mas o sul também estava disposto à guerra, mas em uma guerra internacional, já que não tinha nem as bases sociais nem militares para tal.

Em primeiro de outubro de 1949, Mao Tse-Tung e seu exército revolucionário, com ajuda indispensável de soldados coreanos do chamado “exército voluntario”, triunfaram na China, e foi proclamada a República Popular da China. Após a vitória de Mao, milhares de soldados que lutaram ao lado dos chineses regressaram a Coreia, trazendo consigo influencias chinesas que, apesar do apoio material soviético no Exército Popular da Coréia, tiveram uma relação mais intima e pessoal do que material, e após a retirada das tropas soviéticas da Coréia, esses veteranos ocupariam as lideranças do EPC.

A ajuda militar por parte da RPDC à Revolução Chinesa já demonstrava certa autonomia em relação aos soviéticos, e que não eram fantoches seguindo ordens.

Consolidação do Socialismo

Com a implantação do CPPCN, em 1946, se sucederam várias transformações na parte norte. O governo socialista começou com reformas democráticas que incluíam reforma agrária, igualdade de gênero e nacionalização das industrias mais importantes. A reforma agrária era talvez a pauta mais fundamental para a implementação de uma economia planificada, distribuindo a terra de colaboradores japoneses, “traidores nacionais” e de latifundiários com mais de 2,45 acres, aos camponeses, o que fez com que o governo e o socialismo coreano ganhassem importante apoio popular. Vale destacar que já em 1945, segundo Charles K. Armstrongapós a derrota japonesa vários comitês populares já realizavam, de certa forma, uma reforma agraria, na qual 70% da produção ficava com quem produzia (antes era apenas 40%, e dentro destes, a grande parte era revertida para cobrir despesas, o que havia deixado o campesinato na miséria). Com a reforma, cerca de 700 mil famílias camponesas receberam terras. Outro ponto importantíssimo da reforma agrária foi que, com a separação pelo paralelo 38 não mais correspondia à divisão do trabalho de antes, onde o norte industrial ficou sem o acesso aos alimentos e o sul sem acesso à energia e matéria-prima, como destaca Daniel Schwekendiek.

Outro passo importante foi a nacionalização das industrias, que se encontravam em situação precária, tanto por sabotagem japonesa após a derrota quanto como recompensa aos soviéticos em primeira instância. Nacionalizar foi relativamente simples, já que mais de 90% das industrias eram japonesas e o processo pouco afetou os coreanos, assim, mais de mil empresas se tornaram estatais. A RPDC recebeu um forte apoio soviético, com o envio de técnicos (que estavam em falta até aquele momento na península), matéria-prima, combustíveis e maquinário. Como explica o Prof. Paulo F. Visentini (UFRGS), a produção mais que triplicou entre 1946 e 1949, com os setores de maior crescimento abarcando a construção civil, as têxteis, a metalúrgica, o maquinário, mineração e carvão. Além disso, o desenvolvimento industrial foi favorecido pelos recursos naturais e pelo potencial hidrográfico do norte.

Após as reformas (e durante elas), a economia socialista coreana se assemelhava à soviética, com base de planos a longo prazo e centralização da agricultura e indústria. Os planos anuais de 1947 e 1948 visaram a nacionalização da economia e aumento da produção de bens. Em 1949 e 50, com um plano bianual para aumentar a coletivização da indústria, houveram grandes avanços: O percentual de crianças que frequentavam a escola subiu de 42% para 72%, a produção de ferro subiu de 6 mil para 166 mil toneladas, a produção de bens de consumo quase triplicou. Além disso, desenvolviam-se as cooperativas agrícolas e artesanais, de forma que o Estado e as cooperativas controlavam 56,6% do comercio. (Visentini)

A Guerra

Os anos de 1948 e 1949 foram agitados na península, principalmente na recém criada parte sul. As ações americanas de eliminar os comitês populares já haviam causado revoltas em 1946 (Rebelião da colheita do Outono) e ao passo em que os soviéticos deixavam o norte, o número de guerrilhas aumentava no sul. Após atos de contra insurgência, os guerrilheiros passaram a operar nas montanhas próximas do paralelo 38, e passaram a ter influência direta do norte. Durante o ano de 1949, inúmeros conflitos aconteceram próximo à fronteira norte-sul, ao passo que os norte-americanos aumentavam o armamento sul coreano e os veteranos da revolução chinesa regressavam ao norte. Ao fim do ano, na iminência da guerra, Rhee sofrera uma derrota na Assembleia Nacional, além de ter de lidar agora com a também comunista, China.

Na iminência da guerra, tanto Rhee quanto Kim buscavam apoio de suas potências aliadas. A península já vivia uma guerra civil desde 1948 e devido às conjunturas geopolíticas da época, com a formação da Alemanha Oriental e da OTAN, a consolidação da URSS como potência nuclear, o Japão ainda em processo de reconstrução após a guerra, Mao achou que EUA não iriam a guerra, já que não interviram em função dos nacionalistas. Stalin concordou (não ordenou) com os planos de Kim, de uma guerra rápida, aproveitando o momento frágil de Rhee, e que o sul ainda possuía uma esquerda ainda organizada. Kim queria uma ação rápida de reunificação, antes que Rhee pudesse organizar um exército (contava com o dobro da população do norte) e antes que os comitês populares fossem esmagados de vez pelas perseguições. Rhee em contrapartida desejava também o conflito para firmar seus planos interna e externamente, contando com apoio de Chang Kai Shek (influente nacionalista chinês).

Os historiadores, como Bruce CumingsChae Jin Lee e outros contestam as versões de ambos os lados, culpando o outro pela guerra, e alegam que a guerra foi decorrência de causas múltiplas, com responsabilidades imputadas a todos os atores envolvidos, não apenas os internos, mas tambem externos, como EUA e URSS, embora as duas superpotências não tivessem interesse em um conflito direto.

A guerra tem como início oficial o dia 25 de junho de 1950, em uma região oeste do paralelo 38. O EPC conseguiu impor importantes baixas nas divisões do Exército da República da Coréia (sul) e seguiram com blindados em direção ao Seul. Os EUA e a ONU (que havia boicotado o ingresso da República Popular da China), através da Resolução 85, decidiram enviar tropas para o sul, enquanto Stalin deixou claro que sua intenção era permanecer a margem do conflito, ordenando que seus navios retornassem à zona defensiva.

EPC conseguiu em apenas dois meses de conflito conquistar Seul e encurralar as tropas da ONU. Durante este tempo, reviveu os comitês populares, distribuiu terra e conquistou também o clamor popular, que os viam como libertadores. Cumings destaca ainda:

Os Norte Coreanos lutavam em todas as frentes: lutavam de maneira convencional, lutavam uma guerra de guerrilha, lutavam uma guerra política através dos Comitês Populares e lutavam pela reforma agrária. Em outros termos, esta foi também uma guerra popular.

Foi então que os norte-americanos enviaram seus fuzileiros navais até Seul, em outubro do mesmo ano, e forçaram um recuo do EPC até as montanhas do paralelo 38. Até aquele momento, a guerra havia ceifado poucas vidas, e o massacre só começou a partir da invasão américa, custando mais de 4 milhões de vidas. Os EUA avançaram até o norte do paralelo, e encontraram pouca resistência. As tropas americanas, junto das sul-coreanas, tomaram a capital Pyongyang e acobertaram um massacre estimado entre 50 e 90 mil civis, praticados pela polícia sul coreana e milícias de “organizações juvenis” de extrema direita.
Wonsan, Coreia do Norte, 1951

Os norte coreanos haviam recuado até a montanhosa fronteira com a China, com o objetivo de atrair as tropas da ONU para uma guerra de guerrilhas. Com o avanço americano até a fronteira do Rio Yalu, a China entrou no conflito, já que via o avanço americano como uma ameaça ao recém estabelecido governo comunista, além de solidariedade para com os coreanos, aliados poucos anos antes. A combinação sino-coreana começa então a descer as montanhas, empurrando os soldados americanos até o paralelo 38. A URSS faz sua aparição com os aviões a jato, contra-atacando os jatos americanos. Esta nova ofensiva comunista empurrava os americanos até o paralelo 37, e também reconquistavam Seul. A contraofensiva americana ficou famosa na Operação Killer, utilizando de Napalm e até ameaçando utilizar bombas nucleares, mesmo no território sul, não mais considerado território aliado.

As bombas nucleares por pouco não foram utilizadas, e chegaram até a estarem disponíveis na base de Okinawa [link], mas os EUA preferiram aumentar a utilização de Napalm em plantações, colinas e aldeias, devastando toda forma de recursos com que os norte coreanos pudessem contar. Os EUA chegaram a destruir barragens, inundando aldeias e plantações, de modo a gerar fome generalizada.

"[o PCC] decidiu enviar uma parte de nossas tropas, sob o nome de Voluntários Chineses, para lutar contra os americanos e as forças de [Syngman] Rhee na Coréia e para ajudar os nossos camaradas coreanos. [...] Nós pensamos que este é um passo necessário, porque se permitirmos que a Coréia seja ocupada pelos norte-americanos, as forças revolucionárias coreanas serão completamente destruídas. Veremos então os invasores americanos mais desenfreados, o que será muito desfavorável para todo o Oriente." (Telegrama de Mao para Stálin em Outubro de 1950).

Os EUA então, recuperaram Seul, e após inúmeras reviravoltas em torno do paralelo 38, a guerra alcançou um impasse. Nenhum lado conseguia mais avançar com sucesso, e o processo de paz começou a ser tratado em 1951. A guerra ainda continuava, e diversas vezes os acordos pela paz eram interrompidos, até que em 17 de julho de 1953, foi assinado o armistício, o qual ficou tratado que as tropas de cada lado deveriam permanecer a 2km do paralelo 38, criando assim uma área de 4km entre si, a chamada Zona Desmilitarizada (DMZ).

Mesmo tendo lançado mais bombas que em toda segunda guerra, os EUA não haviam vencido a guerra. Os EUA então, passaram a investir na reconstrução do Japão e criaram uma zona militar na Coréia do Sul, com ogivas nucleares inclusas. A URSS tinha agora sua zona de influência no leste asiático, e fornecia apenas ajuda econômica à RPDC, já que militarmente, esta ajuda provinha da China que, retirava suas tropas em 1958, e mantém o apoio a RPDC, que ocupa agora, mais do que nunca, uma área importante entre um Estado-militar pró-americano e suas fronteiras.



O socialismo pós-guerra e a Coréia hoje

Após o armistício, o sul comandado por Rhee entrava em uma ditadura militar anticomunista, que durou até 1960, quando foi deposto por tentar quebrar o armistício. No norte, Kim consolidou-se como primeiro-ministro e teve sucesso muito maior no processo de reconstrução do que o sul.

O término da guerra com o armistício, e nunca ter se encerrado de vez, implicou em consequências que são sentidas até os dias atuais, e explica o Estado altamente militarizado do país. O país contava com imenso sistema de tuneis e abrigos subterrâneos (mais de 15 mil) de defesa contra ataques nucleares, e o investimento militar também visava assegurar a autonomia norte coreana.

Com o trauma da guerra (com a destruição quase que completa de infraestrutura do país) e as tensões externas, a RPDC hoje possui mais de 23 milhões de habitantes, dentre os quais 1 milhão formam seu exército e outros 7 milhões estão na reserva, além de que a população adulta em geral tem certo treinamento militar. A guerra, de certa forma, fez com que a aplicação de uma economia planificada fosse relativamente mais simples, e o processo de reconstrução do país, que contou com ajuda soviética e chinesa, mas foi feita com muito suor coreano, foi fundamental para criar na população um sentimento de importância e identificação com o regime (algo um pouco semelhante, dada as devidas proporções é claro, à identificação da população cubana e sua revolução).

A situação para a RPDC também era delicada por conta das divergências políticas entre seus dois maiores padrinhos, China e URSS. A direção entre os dois gigantes começou a divergir a partir do 20º Congresso do Partido Comunista soviético, em 1956. Desta forma, a Coréia teve de aprender a lidar com ambas, mas se alinhando mais a China que a URSS (porém, sem tomar partido), devido à postura diplomática adotada pela URSS em relação ao ocidente, além de que suas atenções estavam voltadas ao leste europeu. Foi nesse cenário que se desenvolve o socialismo Zuche (ou Juche), que tinha como prezava pela autoconfiança, independência e, mesmo necessitando de apoio para se defender da ameaça ao sul, sabia que o seu triunfo viria de seu próprio desenvolvimento.

Quanto à economia coreana, Cumings diz:

A Coreia do Norte oferece o melhor exemplo de retiro consciente do sistema mundial capitalista no mundo pós-colonial em desenvolvimento, bem como uma tentativa séria de construção de uma economia independente, autônoma; como resultado, observamos, hoje, à economia industrial mais autárquica do mundo. [Mas] a Coreia do Norte nunca permaneceu ociosa, sempre avançou. Esta foi uma retirada com desenvolvimento e uma retirada para o desenvolvimento. A autossuficiência foi, ademais, autossuficiência em relação ao bloco soviético, porém com menos perseverança: [ela] recebeu grande quantidade de ajuda econômica e assistência técnica da URSS e da China (ainda que longe do que recebeu o Sul dos EUA e do Japão). (Visintini & Pereira, Analúcia – 181)

No final da década de 1950, a Coréia do Norte visava a autossuficiência alimentícia e, para tal, melhorou e aplicou melhores técnicas de irrigação, eletricidade, mecanização e química. Neste período, a eletricidade chegou a 92,1% das aldeias e mais de 62% das casas camponesas (Visentini). Com a URSS ajudando na reconstrução industrial e a China com suprimentos, a ajuda externa chegou a 60% do orçamento da RPDC, e após a completa implantação do socialismo, sua produção alcançou os mesmos níveis que atingira antes da destruição pela guerra, atingindo um crescimento industrial de 41,7% (Cumings). O investimento estatal nas grandes industrias seria essencial para o socialismo Zuche, uma vez que estas industrias seriam as que garantiriam sua autossuficiência e independência. Entre 1957 e 1960, sua produção industrial mais que triplicou. Durante a primeira metade da década de 60, segundo Schwekendiek, comparando dados de pesquisadores e órgãos sul coreanos, a RPDC crescia a taxas de 25% a 35% ao ano, chegando a 37% em 1967.

Na década de 1970, outra mudança política estratégica abalou a situação coreana com as potências. O alinhamento da China com os EUA, na chamada diplomacia Ping-Pong, depois que Mao recebeu o presidente Nixom em Pequim, em um esforço para barra os soviéticos pela Ásia.  A China se torna membro permanente do Conselho de Segurança da ONU em 1971. A ONU, vale lembrar, era tida como uma organização de influência norte americana, que ameaçava a existência dos sistemas socialistas. Veio então o período de Gorbachev a frente da URSS e a Perestroika e o início da abertura econômica soviética. A URSS passa a dialogar com a Coréia do Sul, após as políticas Nordpolitik (política sul coreana que pretendia alcançar os aliados norte coreanos), o que tinha efeitos positivos para a economia sul coreana, enquanto o Norte acabava cada vez mais isolado.

Com o alinhamento econômico da China e a abertura para o mundo capitalista da URSS, a Coréia do Norte teve de buscar alguma forma de convívio com os EUA, Japão e Coréia do Sul, de forma a evitar seu completo isolamento e um eventual colapso, e ambas as Coreias entraram na ONU em 1991. Em meio a isso tudo, morre Kim Il Sung, em 1994, sendo substituído por seu filho, Kim Jong Il, dentro de uma estabilidade institucional que já vinha sendo preparada havia tempo (Visentini), e o apoio chinês foi essencial para que tudo permanecesse estável. Foi também durante este período que duas enchentes gigantescas e uma seca provocaram uma crise alimentar no norte, sendo necessária a ajuda internacional. Com o colapso da URSS a Coreia do Norte perdera o fornecimento de petróleo subsidiado, de insumos para suas fábricas de fertilizantes e cimento e peças de reposição para os maquinários. Assim, a agricultura e a indústria sofreram drástica redução. E a China agora só vendia a preço de mercado e em moeda conversível (Visentini).

Foi neste novo governo que o Zuche sofreu algumas mudanças, devido as novas realidades regional e internacional. O governo de Kim Jong Il lança então o chamado Songun (“Forças armadas em primeiro lugar”) como nova estratégia nacional, o que incluía a barganha nuclear. Durante algum tempo, nos mandatos de Clinton e com moderados em Seul, houveram uma certa colaboração na península o que mudou com Bush, militarizando ainda mais o sul, durante os atos de “terrorismo” (11 de setembro de 2001, por exemplo).

Durante a administração Bush, a questão nuclear passou a ser explorada ainda mais. O regime de Kim Jong Il desejava um acordo bilateral com os EUA, de forma a garantir sua segurança e recursos econômicos (como fim de sanções) para que a Coréia pudesse melhorar sua esfera produtiva e se manter viva (embora não houvessem indícios de um colapso iminente). Como destaca Visentini em um artigo junto de Analúcia Pereira:

Apesar de tudo, nos anos 2000, a Coreia do Norte conseguiu amenizar a crise econômica e garantir a continuidade do regime. Já no plano externo, a recuperação se deveu, especialmente, aos investimentos chineses, à aproximação econômica com a Coreia do Sul – com o estabelecimento da Zona Industrial de Kaesong (ZIK), em 2002, e com a criação de Zonas Econômicas Especiais (ZEE) ao longo da fronteira –, e à barganha política com os EUA acerca de seu programa nuclear – sobretudo após o Acordo Quadro de 1994 e a criação das Six Party Talks, em 2003.

Com as tentativas de reformas monetárias, em um vai e vem com sua economia planificada, a Coréia sofreu sanções mais pesadas após seus testes balísticos e nucleares no final da década de 2000. Porém, a China, que até aquele momento vinha sendo ambígua, ora fornecedora de subsídios ora pressionando para o fim do projeto nuclear, voltou a estreitar relações com a RPDC em 2010.

Em 2011, ocorre a segunda sucessão de líder norte-coreano, e Kim Jong Un assume o governo. Isto ocorreu após uma reestruturação do Partido e com a revisão da Constituição de 1998. Kim Jong Un, assim que assumiu, colocou em prática suas políticas, se mostrando um líder diferente de seu pai e mais parecido a seu avô, Kim Il Sung, com maiores aparições públicas, maior participação no Partido e seu interesse pelo desenvolvimento econômico do país. O novo líder, agora Marechal da República, teve grande sucesso no processo de transição de governos, o que ajudou a consolidar sua posse, com grande apoio dentro das instituições.  

O governo de Kim Jong Un também é importante por definir os limites entre as atuações das forças armadas e do Partido, onde militares desenvolvem atividades militares e civis às civis, uma revisão do modelo Songun.

Kim Jong Un começou a transformar a fisionomia da RPDC. Nos últimos anos, grandes projetos públicos nos setores de educação, saúde e lazer, por exemplo, transformam-se em realidade em questão de meses. O governo definiu a agricultura, a construção pública e o campo de ciência e tecnologia como prioridades. Tais definições refletem, em parte, o regime de sanções, que não atingiram nenhum de seus objetivos até o momento, pois o regime norte-coreano não dá sinais de esgotamento, tampouco impediram o desenvolvimento dos programas nuclear e de misseis. (Visentini)

A RPDC voltou a crescer na última década com Kim Jong Un, com algum recuo de mercado privado e conciliando poderio militar com os interesses da população. A RDPC busca o patamar de potência nuclear, satélites e misseis para assim, diminuir os custos militares, já que um exército defasado seria mais caro modernizar e pouco adiantaria em combate o que possibilitaria realocar recursos para outras áreas.

Com Kim Jong Un, existem esforços para melhorar a vida cotidiana da populção, mesmo com os embargos, como modernização das escolas e hospitais, parques de diversão, e aumento no consumo, além de manter ao sul, as chamadas Joint Ventures entre estatais do norte e setores privados do sul. No norte, um porto conectado a China e a Rússia contem empresas de outros países. Em meio aos prédios com ares soviéticos, a modernização vem chegando e celulares e computadores tem se espalhado cada vez mais, sendo possível a navegação utilizando de sua rede interna (intranet).

Apesar das tensões militares, a população vive bem. Mesmo na zona rural, menos favorecida, as pessoas ainda têm acesso à educação e a saúde, e levam uma vida saudável. A uma tentativa de sair do isolamento, que é muito mais por forças externas do que internas ao país, o que obriga-o a uma resposta equivalente por razoes de segurança.

As figuras e o culto as personalidades faz parte da RPDC, mas não se difere muito do culto as monarquias europeias por "trazerem estabilidade política", e que o brasil repete se certa forma. Por outro lado, as tensões militares externas dão um reforço extra a situação, e na identificacao popular com uma figura responsável pela continuidade para que não existam crises sucessórias (como é recorrente no mundo capitalista, como exemplo, a Argentina de Macri, o Brasil de Temer. Exemplos não faltam), o que seria fatal para a autonomia do país.

A figura do líder expressa muito mais uma espécie de unidade nacional do que o ídolo em si. Sua autonomia como estado é motivo de orgulho, e identidade nacional sem se curvarem nem mesmo a China, e sua postura perante as grandes potências deixa isso evidente. Mas devemos entender esta personalidade norte coreana em suas origens históricas, como os traços asiatico-confucianos, dinastia Choson 1392-1910, patriarcal, hierárquica com reverencia paternal e de respeito aos mais velhos e reis, e se isolou após invasões mongóis e japonesas, e não como resultado do socialismo. (Visentini)

Conclusão

Muito se fala sobre a Coréia do Norte, porém sua Revolução, assim como a Guerra da Coreia, é muito pouco conhecida. Sua posição geográfica diz muito sobre a situação do país, suas influências chinesas e confucionistas durante os séculos anteriores à Revolução também nos ensinam muito, e nos ajudam a entender a complexa península. As invasões japonesas forjaram um forte sentimento anticolonial e anti-imperialista nos coreanos (inclusive no sul), e a busca por uma unidade nacional e autossuficiência foram, talvez, a parte mais marcante de toda trajetória norte coreana.

Fala-se de um país dominado por líderes malucos, com desejo de destruição, quando na verdade, se trata muito mais de se manter firme e autônomo em uma posição difícil em um mundo globalizado e ideologicamente contrário, do que a falsa analogia.

O armamento nuclear, hoje, mais do que nunca, faz com que a posição da RPDC altere a um patamar acima e, agora, pode se sentar à mesa de negociações com o que barganhar. Obter a tranquilidade na questão defensiva também significa uma melhor distribuição de recursos internos, uma vez que o projeto nuclear e militar consome muito de seus escassos recursos, que agora podem ser alocados em outras áreas necessitarias.

Espero que este texto ajude a desmistificar certos aspectos fantasiosos sobre o país, e que fomente o debate sobre a geopolítica e as implicações globais imperialistas do capitalismo.



    Referências Bibliográficas:

      

    ARMSTRONG, Charles K. – North Korea’s Revolution (1945-1950)

    CUMINGS, Bruce – Korean’s place on the sun - 1997

    CUMINGS, Bruce – North Korea

    SCHWEKENDIEK, Daniel - A Socioeconomic History of North Korea (2011)

    VISENTINI, Paulo G.; PEREIRA, Analucia; MELCHIONNA, Helena – A Revolução Coreana, o desconhecido socialismo Zuche - 2015

    VISENTINI, Paulo & PEREIRA, Analucia - A discreta transição da Coreia do Norte: diplomacia de risco e modernização sem reforma

    MANNARINO, Giovanni & DOURADO, Lauter – A China e a Guerra na Coréia (1950-1953)

    https://mondediplo.com/2004/12/08korea

    https://www.airspacemag.com/military-aviation/how-korean-war-almost-went-nuclear-180955324/

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73291997000100009