Parece a Alemanha dos anos 30, mas é o Brasil de 2018 - Estado Alterado

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sábado, 6 de outubro de 2018

Parece a Alemanha dos anos 30, mas é o Brasil de 2018

- Por Ramon Carlos
Desemprego, descrédito nas instituições democráticas, perseguição à minorias e a fabricação de um inimigo da nação. 
A incapacidade da esquerda na incorporação dos eventos de 2013, a cooptação dos desenrolares das manifestações pela direita e pelo discurso vazio de combate à corrupção mostram uma reorganização da direita. O remanescente da esquerda pós 2013 foram algumas demonstrações durante a copa do mundo, que foi tratado como terrorismo pela grande mídia, e atos contra ocupações militares no Rio de Janeiro do governo Dilma. 
Enquanto boa parte da esquerda eleitoral somava ao discurso contra as demonstrações anti-Fifa e anti ocupação militar, acreditando que suas alianças eleitoreiras do período lulista pudesse ser duradoura, e que bastaria emplacar outra vitória nas urnas que tudo se resolveria, a direita se organizava. Think Tanks estrangeiros por trás de movimentos convocando chamadas para as ruas ¹, com um discurso contra corrupção, com suas camisas da CBF, o claro alinhamento judiciário aos setores reacionários e a despolitização gerada pela ascensão via consumo nos governos Lula, alimentaram o antipetismo, que já vinha desde décadas atras.
Quando os movimentos de direita começaram a sair de fato do armário, velhos políticos de partidos liberais e tradicionais da elite paulistana foram hostilizados pelo discurso anti-corrupção que ganhava força junto à Lava-Jato. A grande massa de passivos ideológicos usada nos movimentos de 2015, encontraram finalmente na figura de Bolsonaro o seu Duce.
É comum vermos a esquerda associar Bolsonaro como causa desta situação política de ódio e desrespeito às minorias. Bolsonaro é um reflexo deste momento, um mero representante do pensamento fascista, que até pouco estava enrustido em nossa sociedade, e que nada melhor que uma crise do capitalismo para expor esse tipo de gente.
Na atual conjuntura brasileira é fácil observar elementos que vão de encontro ao declínio da social-democracia, a descrença na democracia liberal representativa e da conciliação empregada pelo lulismo, a incapacidade da esquerda revolucionária em colocar em pauta sua agenda, com os partidos de vanguarda sendo levados à alianças bastante questionáveis com partidos reformistas, além da desleal e irracional cultura que passou a existir muito mais fortemente nos últimos anos, que é o ódio aos ideias de esquerda, o qual o anti-petismo surge como uma doença diretamente dos sintomas do fascismo das elites ideologicamente repassados às classes despolitizadas.
Nas ruas, o que temos visto é um ambiente hostil. Em suas carreatas e marchas, os apoiadores e simpatizantes de Bolsonaro acumulam peripécias e absurdos. Seus movimentos reúnem exaltação das armas, de torturadores da ditadura militar, saudações nazistas (que foram registradas inúmeras vezes durante os atos), incitações de fuzilamento aos petistas e, mais recente, a destruição de uma placa com o nome de Marielle Franco [2], vereadora assassinada este ano no Rio de Janeiro (tudo indica, por milicianos)[3]. Os fascistas estão nas universidades rasgando livros, fazendo pichações racistas e ameaçando quem pensa diferente [4][5][6]. 

Dentro deste contexto, é importante aqui um destaque a campanha de Guilherme Boulos, candidato que merece algum respeito pela militância em favor dos oprimidos e dos trabalhadores sem teto. Porém, sua campanha teve sérios problemas em dialogar com as massas e com a parcela da população que deveria se identificar com o discurso. A atitude de lacração deixou de lado o teor incendiário da luta de classes, e limitou suas propostas ao reformismo que já estamos todos acostumados quando se trata da esquerda partidária. Por outro lado, é importante a atitude de Boulos frente ao ovo chocado pelo anti-petismo alimentado pela elite midiática e pela classe média em seus movimentos pró impeachment. Foi o único candidato que adotou um tom forte contra o candidato fascista nos debates na TV. Os outros candidatos progressistas foram amenos, e se limitaram à discussão econômica na tentativa de desqualificar o representante da extrema direita. 
Teremos um árduo caminho pela frente, para reestruturar a esquerda de base e os movimentos sociais. O fascismo bate às portas, e as urnas não são, nunca foram e nunca serão a maneira de se derrota-lo. Claro que, uma derrota eleitoral pode atrasar sua institucionalização, mas temos que admitir que estamos perdendo esta batalha.  
Como escreve Malatestadurante a ascensão fascista na Itália: "O fascismo venceu não foi simplesmente porque conquistou o poder político; a vitória do fascismo está menos no fato de tornar-se regime político e muito mais em razão de ter encontrado em um número suficiente de pessoas, de ter encontrado nas massas populares a disposição para agir 'fascistamente'."
Só espero que não tenhamos a nossa Marcha sobre Roma.

[1] - https://www.cartacapital.com.br/politica/a-nova-roupa-da-direita-4795.html
[2] - https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,flavio-bolsonaro-defende-destruicao-de-placa-pro-marielle-por-correligionarios,70002532531
[2] - http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI1477397-EI7896,00-Deputado+quer+legalizar+milicias+no+Rio.html &
[3] - https://www.youtube.com/watch?v=hGVt9oPiuMM
[4] - https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2018/10/04/livros-de-direitos-humanos-sao-rasgados-na-biblioteca-da-unb.ghtml
[5] - https://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,biblioteca-da-unicamp-e-alvo-de-pichacoes-racistas-reitoria-investiga-o-caso,70002454556
[6] - https://epoca.globo.com/aula-de-historia-em-natal-terminou-com-um-professor-ameacado-de-morte-por-partidarios-de-bolsonaro-23132882

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