No Brasil, lutar contra a enorme
desigualdade, contra os latifĂşndios, contra a truculĂŞncia policial e o extermĂnio
nas periferias, é perigoso. É ir contra os interesses das elites, que comandam
as terras a muito tempo, exterminam indĂgenas e roubam suas terras. É ter
coragem de dizer o que pouco se noticiam sobre o tráfico de drogas e seu
mercado bilionário em que polĂticos tĂŞm atĂ© helicĂłpteros apreendidos (e depois
liberados) com pasta base de cocaĂna. É ter coragem de expor filho de
embargadora preso com meia tonelada de maconha e munição de uso restrito das forças
armadas, e mesmo assim, seguiu impune em tempo recorde. Enquanto isso, uma
vereadora de uma das cidades mais importantes do paĂs Ă© morta a tiros, num
crime elaborado e lucidamente polĂtico. Marielle
Franco lutava pelos direitos humanos, pelo fim da violĂŞncia contra o povo
(no qual a polĂcia tem evidente papel). Marielle denunciou com veemĂŞncia a
violĂŞncia em Acari e por isso morreu violentamente.
Infelizmente, Marielle nĂŁo foi a
primeira e nem será a última. Voltaremos um pouco. Vejamos um dos casos mais
emblemáticos disso, Dorothy Stang.
Assassinada aos 73 anos, com SEIS
tiros em uma estrada de poucos acessos no interior do Pará. Na época, a irmã
Dorothy lutava junto de pequenos agricultores a criarem um futuro independente e
sustentável para suas famĂlias, e frear a exploração predatĂłria da AmazĂ´nia. Mexia
diretamente nos interesses do agronegĂłcio e das madeireiras.
Exemplos nĂŁo faltam. Em 2017, no
primeiro semestre, em um intervalo de 35 dias, ocorreram trĂŞs massacres e uma
tentativa, onde 23 trabalhadores foram mortos pelo direito Ă Terra. Dez mortos
em Colniza (MT), trĂŞs corpos
carbonizados em Vilhena (RO) (em uma
mesma propriedade onde, em 2015, cinco haviam sido assassinados), Pau d’Arco (PA) com outros dez mortos.
No caso de Pau d’Arco, a polĂcia (autora dos assassinatos) alegou legĂtima
defesa, porĂ©m, a perĂcia mostrou que alguns destes homens foram mortos
indefesos, e que nem as vĂtimas nĂŁo
disparam nem um tiro se quer. ExtermĂnio.
Estamos vivendo momentos sombrios.
PolĂticos nĂŁo escondem mais sua face fascista - defendendo torturadores e milĂcias - e seus
seguidores programados parecem nĂŁo ver a sua volta, como se usassem um antolho.
As mortes motivadas por ideais polĂticos sĂŁo justificadas pelos “inimigos dos
direitos humanos”, com um malabarismo na tentativa de inverter dos papĂ©is no
crime. Marielle de repente virou alvo de fake News e especulações absurdas, na
tentativa de transforma-la em vilĂŁ. Mas quando
a polĂcia e o estado se tornam o bandido, quem irĂŁo chamar? Os direitos
humanos?
Como disse o frei Betto, em 2017, “O Estado brasileiro tem ultrapassado os
limites do desrespeito Ă cidadania e aos interesses do povo, numa democracia de
fachada, cinismo e desfaçatez, que se alimenta de desmandos criminosos impunes,
conforme o comprova a Lava Jato. A desobediência ou manipulação da legalidade é
senha para os excessos na repressão aos pobres. É licença para matar e
tripudiar sobre eles. Nega-se um mĂnimo de dignidade a camponeses,
trabalhadores sem-terra, pescadores, quilombolas e indĂgenas”.
Mas isso tem nome: Luta de classes. Pura e simples. Mais do que nunca, Ă© hora de
continuar a luta, nĂŁo deixar que os mortos na luta pelos direitos tenham sido
em vĂŁo.
Deixo aqui, uma lista que o Professor
da UnB, Fernando Horta, postou em seu facebook com inĂşmeros nomes de lĂderes comunitários assassinados
apenas nos Ăşltimos anos no Brasil.
"Paulo
SĂ©rgio Santos, 08/07/2014 – lĂder quilombola na Bahia – Assassinado
SimeĂŁo Vilhalva Cristiano Navarro, 01/09/2015 – lĂder indĂgena Mato Grosso – Assassinado.
Nilce de Souza MagalhĂŁes (Nicinha) 07/01/2016 - lĂder comunistária, Movimento atingido por barragens (MAB) RO - Assassinada
Marcos VinĂcius de Oliveira Silva (Marcos Matraga), 04/02/2016 - Professor lĂder na denĂşncia de conflitos agrários, BA - Assassinado
Edmilson Alves da Silva, 16/02/2016 – LĂder comunitário alagoas - Assassinado
JosĂ© Conceição Pereira, 14/04/2016 – LĂder comunitário MaranhĂŁo – Assassinado
JosĂ© Bernardo da Silva, 27/04/2016 – lĂder do MST Pernambuco – Assassinado
Almir Silva dos Santos, 08/07/2016 – lĂder comunitário no MaranhĂŁo – assassinado
JoĂŁo NatalĂcio Xukuru-Kariri, 19/10/2016 – lĂder indĂgena Alagoas – Assassinado
Waldomiro costa Pereira, 20/03/2017 – LĂder MST Pará – Assassinado
LuĂs CĂ©sar Santiago da Silva (“cabeça do povo”), 15/04/2017 – lĂder sindical Ceará – assassinado
Valdenir Juventino Izidoro, (lobo), 04/06/2017 – lĂder camponĂŞs RondĂ´nia – Assassinado
Eraldo Lima Costa e Silva, 20/06/2017 – lĂder MST Recife – assassinado
Rosenildo Pereira de Almeida (NegĂŁo), 08/07/2017 – lĂder comunitário/MST – Assassinato
JosĂ© Raimundo da Mota de Souza JĂşnior 13/07/2017 – lĂder quilombola/MST bahia – assassinado
Fabio Gabriel Pacifico dos Santos (binho dos palmares), 19/09/2017 – lĂder quilombola Bahia – Assassinado
Jair Cleber dos Santos, 24/09/2017 – lĂder movimento agrário Pará – Assassinado
Clodoaldo dos Santos, 15/12/2017 – lĂder sindicalista sindipetro RJ – assassinado
Jefferson Marcelo, 04/01/2018, LĂder comunitário no RJ – assassinado
Valdemir Resplandes, 09/01/2018 – lĂder MST Pará – Assassinado
Leandro altenir Ribeiro Ribas, 19/01/2018 – LĂder Comunitário no RS – assassinado
Márcio Oliveira Matos, 26/01/2018 – lĂder do MST na Bahia – assassinado
Carlos Antonio dos Santos (carlĂŁo), 08/02/2018 – lĂder movimento agrário Mato Grosso – assassinado
George de Andrade Lima Rodrigues, 23/02/2018 – lĂder comunitário Recife – assassinado
Paulo SĂ©rgio Almeida Nascimento 13/03/2018 – lĂder comunitário no Pará – assassinado
SimeĂŁo Vilhalva Cristiano Navarro, 01/09/2015 – lĂder indĂgena Mato Grosso – Assassinado.
Nilce de Souza MagalhĂŁes (Nicinha) 07/01/2016 - lĂder comunistária, Movimento atingido por barragens (MAB) RO - Assassinada
Marcos VinĂcius de Oliveira Silva (Marcos Matraga), 04/02/2016 - Professor lĂder na denĂşncia de conflitos agrários, BA - Assassinado
Edmilson Alves da Silva, 16/02/2016 – LĂder comunitário alagoas - Assassinado
JosĂ© Conceição Pereira, 14/04/2016 – LĂder comunitário MaranhĂŁo – Assassinado
JosĂ© Bernardo da Silva, 27/04/2016 – lĂder do MST Pernambuco – Assassinado
Almir Silva dos Santos, 08/07/2016 – lĂder comunitário no MaranhĂŁo – assassinado
JoĂŁo NatalĂcio Xukuru-Kariri, 19/10/2016 – lĂder indĂgena Alagoas – Assassinado
Waldomiro costa Pereira, 20/03/2017 – LĂder MST Pará – Assassinado
LuĂs CĂ©sar Santiago da Silva (“cabeça do povo”), 15/04/2017 – lĂder sindical Ceará – assassinado
Valdenir Juventino Izidoro, (lobo), 04/06/2017 – lĂder camponĂŞs RondĂ´nia – Assassinado
Eraldo Lima Costa e Silva, 20/06/2017 – lĂder MST Recife – assassinado
Rosenildo Pereira de Almeida (NegĂŁo), 08/07/2017 – lĂder comunitário/MST – Assassinato
JosĂ© Raimundo da Mota de Souza JĂşnior 13/07/2017 – lĂder quilombola/MST bahia – assassinado
Fabio Gabriel Pacifico dos Santos (binho dos palmares), 19/09/2017 – lĂder quilombola Bahia – Assassinado
Jair Cleber dos Santos, 24/09/2017 – lĂder movimento agrário Pará – Assassinado
Clodoaldo dos Santos, 15/12/2017 – lĂder sindicalista sindipetro RJ – assassinado
Jefferson Marcelo, 04/01/2018, LĂder comunitário no RJ – assassinado
Valdemir Resplandes, 09/01/2018 – lĂder MST Pará – Assassinado
Leandro altenir Ribeiro Ribas, 19/01/2018 – LĂder Comunitário no RS – assassinado
Márcio Oliveira Matos, 26/01/2018 – lĂder do MST na Bahia – assassinado
Carlos Antonio dos Santos (carlĂŁo), 08/02/2018 – lĂder movimento agrário Mato Grosso – assassinado
George de Andrade Lima Rodrigues, 23/02/2018 – lĂder comunitário Recife – assassinado
Paulo SĂ©rgio Almeida Nascimento 13/03/2018 – lĂder comunitário no Pará – assassinado
Agora foi a vereadora Marielle Franco.
Assassinada.
Enquanto a esquerda discute sobre
"pactos sociais", "Legados polĂticos de A ou B",
estratégias de resistência ... ela vai sendo morta ...
Morta.
Morta.
Continuem discutindo e evitando uma uniĂŁo ... a direita segue matando."
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