Marielle, Presente! - Estado Alterado

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sábado, 17 de março de 2018

Marielle, Presente!



No Brasil, lutar contra a enorme desigualdade, contra os latifúndios, contra a truculência policial e o extermínio nas periferias, é perigoso. É ir contra os interesses das elites, que comandam as terras a muito tempo, exterminam indígenas e roubam suas terras. É ter coragem de dizer o que pouco se noticiam sobre o tráfico de drogas e seu mercado bilionário em que políticos têm até helicópteros apreendidos (e depois liberados) com pasta base de cocaína. É ter coragem de expor filho de embargadora preso com meia tonelada de maconha e munição de uso restrito das forças armadas, e mesmo assim, seguiu impune em tempo recorde. Enquanto isso, uma vereadora de uma das cidades mais importantes do país é morta a tiros, num crime elaborado e lucidamente político. Marielle Franco lutava pelos direitos humanos, pelo fim da violência contra o povo (no qual a polícia tem evidente papel). Marielle denunciou com veemência a violência em Acari e por isso morreu violentamente.

Infelizmente, Marielle não foi a primeira e nem será a última. Voltaremos um pouco. Vejamos um dos casos mais emblemáticos disso, Dorothy Stang. Assassinada aos 73 anos, com SEIS tiros em uma estrada de poucos acessos no interior do Pará. Na época, a irmã Dorothy lutava junto de pequenos agricultores a criarem um futuro independente e sustentável para suas famílias, e frear a exploração predatória da Amazônia. Mexia diretamente nos interesses do agronegócio e das madeireiras.  
Exemplos não faltam. Em 2017, no primeiro semestre, em um intervalo de 35 dias, ocorreram três massacres e uma tentativa, onde 23 trabalhadores foram mortos pelo direito à Terra. Dez mortos em Colniza (MT), três corpos carbonizados em Vilhena (RO) (em uma mesma propriedade onde, em 2015, cinco haviam sido assassinados), Pau d’Arco (PA) com outros dez mortos. No caso de Pau d’Arco, a polícia (autora dos assassinatos) alegou legítima defesa, porém, a perícia mostrou que alguns destes homens foram mortos indefesos, e que nem as vítimas não disparam nem um tiro se quer. Extermínio.

Estamos vivendo momentos sombrios. Políticos não escondem mais sua face fascista -  defendendo torturadores e milícias - e seus seguidores programados parecem não ver a sua volta, como se usassem um antolho. As mortes motivadas por ideais políticos são justificadas pelos “inimigos dos direitos humanos”, com um malabarismo na tentativa de inverter dos papéis no crime. Marielle de repente virou alvo de fake News e especulações absurdas, na tentativa de transforma-la em vilã. Mas quando a polícia e o estado se tornam o bandido, quem irão chamar? Os direitos humanos?

Como disse o frei Betto, em 2017, “O Estado brasileiro tem ultrapassado os limites do desrespeito à cidadania e aos interesses do povo, numa democracia de fachada, cinismo e desfaçatez, que se alimenta de desmandos criminosos impunes, conforme o comprova a Lava Jato. A desobediência ou manipulação da legalidade é senha para os excessos na repressão aos pobres. É licença para matar e tripudiar sobre eles. Nega-se um mínimo de dignidade a camponeses, trabalhadores sem-terra, pescadores, quilombolas e indígenas”.

Mas isso tem nome: Luta de classes. Pura e simples. Mais do que nunca, é hora de continuar a luta, não deixar que os mortos na luta pelos direitos tenham sido em vão.

Deixo aqui, uma lista que o Professor da UnB, Fernando Horta, postou em seu facebook com inúmeros nomes de líderes comunitários assassinados apenas nos últimos anos no Brasil.
"Paulo Sérgio Santos, 08/07/2014 – líder quilombola na Bahia – Assassinado
Simeão Vilhalva Cristiano Navarro, 01/09/2015 – líder indígena Mato Grosso – Assassinado.
Nilce de Souza Magalhães (Nicinha) 07/01/2016 - líder comunistária, Movimento atingido por barragens (MAB) RO - Assassinada
Marcos Vinícius de Oliveira Silva (Marcos Matraga), 04/02/2016 - Professor líder na denúncia de conflitos agrários, BA - Assassinado
Edmilson Alves da Silva, 16/02/2016 – Líder comunitário alagoas - Assassinado
José Conceição Pereira, 14/04/2016 – Líder comunitário Maranhão – Assassinado
José Bernardo da Silva, 27/04/2016 – líder do MST Pernambuco – Assassinado
Almir Silva dos Santos, 08/07/2016 – líder comunitário no Maranhão – assassinado
João Natalício Xukuru-Kariri, 19/10/2016 – líder indígena Alagoas – Assassinado
Waldomiro costa Pereira, 20/03/2017 – Líder MST Pará – Assassinado
Luís César Santiago da Silva (“cabeça do povo”), 15/04/2017 – líder sindical Ceará – assassinado
Valdenir Juventino Izidoro, (lobo), 04/06/2017 – líder camponês Rondônia – Assassinado
Eraldo Lima Costa e Silva, 20/06/2017 – líder MST Recife – assassinado
Rosenildo Pereira de Almeida (Negão), 08/07/2017 – líder comunitário/MST – Assassinato
José Raimundo da Mota de Souza Júnior 13/07/2017 – líder quilombola/MST bahia – assassinado
Fabio Gabriel Pacifico dos Santos (binho dos palmares), 19/09/2017 – líder quilombola Bahia – Assassinado
Jair Cleber dos Santos, 24/09/2017 – líder movimento agrário Pará – Assassinado
Clodoaldo dos Santos, 15/12/2017 – líder sindicalista sindipetro RJ – assassinado
Jefferson Marcelo, 04/01/2018, Líder comunitário no RJ – assassinado
Valdemir Resplandes, 09/01/2018 – líder MST Pará – Assassinado
Leandro altenir Ribeiro Ribas, 19/01/2018 – Líder Comunitário no RS – assassinado
Márcio Oliveira Matos, 26/01/2018 – líder do MST na Bahia – assassinado
Carlos Antonio dos Santos (carlão), 08/02/2018 – líder movimento agrário Mato Grosso – assassinado
George de Andrade Lima Rodrigues, 23/02/2018 – líder comunitário Recife – assassinado
Paulo Sérgio Almeida Nascimento 13/03/2018 – líder comunitário no Pará – assassinado
Agora foi a vereadora Marielle Franco. Assassinada.
Enquanto a esquerda discute sobre "pactos sociais", "Legados políticos de A ou B", estratégias de resistência ... ela vai sendo morta ...
Morta.

Continuem discutindo e evitando uma união ... a direita segue matando."

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