-Por Ramon Carlos
O neoliberalismo tende a reduzir a democracia aos debates triviais sobre questões menores entre partidos que seguem basicamente as mesmas agendas em função do mercado, com umas diferenças mĂnimas entre si e seus candidatos. Mantendo os negĂłcios e o mercado fora do alcance popular, e mantendo o povo longe da tomada de decisões, tirando assim, do domĂnio pĂşblico e as transferindo para o privado, nĂŁo se caracteriza uma democracia. Desta forma, como a ‘democracia’ eleitoral pouco afeta a vida social de forma significativa, a descrença com a polĂtica, a apatia e o cinismo nadam de braçada. O nĂşmero de abstenções nas Ăşltimas eleições talvez nos de uma pista disso. Criamos uma consciĂŞncia e uma crĂtica Ă democracia burguesa ou isto Ă© simplesmente o descrĂ©dito na prĂłpria polĂtica?
O ocidente já tenta a dĂ©cadas resumir a democracia Ă s eleições a cada quatro anos numa lista de candidatos apoiados por grandes empresas, empreiteiras etc. Democracia nĂŁo se resume ao voto. Democracia Ă© participação popular, justiça social, igualdade e outros elementos que permitam o desenvolvimento de uma sociedade onde os direitos sejam respeitados e onde os cidadĂŁos tenham de fato participação na tomada de decisões que afetam sua vida, que tenham acesso Ă s informações necessárias e relevantes e que a polĂtica deixe de ser apenas mais um produto a ser consumido.
Portanto, Ă© preciso que os cidadĂŁos tenham interesse e se sintam envolvidos com a forma de polĂtica e entre sua comunidade. Uma forma de alcançar isto Ă© atravĂ©s de organizações e instituições fora do tal ‘mercado’ (no âmbito pĂşblico). Bibliotecas, centros comunitários, ONGS, escolas pĂşblicas, universidades pĂşblicas, cooperativas, associações de bairro e de moradores e principalmente sindicatos, sĂŁo maneiras de se criar uma polĂtica comunicativa que permita o encontro e a interação dos cidadĂŁos. O que vemos no neoliberalismo, Ă© justamente o desmantelamento destas organizações e deste tipo de associação entre os cidadĂŁos.