Automação, Renda Basica Universal e o Capital - Estado Alterado

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domingo, 25 de fevereiro de 2018

Automação, Renda Basica Universal e o Capital

Recentemente o bilionário e CEO da Tesla e SpaceX, Elon Musk fez mais um de seus feitos ao colocar um carro em órbita, com uma mensagem “Don’t Panic” (não entre em pânico) no painel. Porém, quanto a automação e robôs que “farão tudo melhor do que nós”, a frase “Don’t Panic” parece se confrontar com sua seguinte afirmação a respeito: “Yeah, I am not sure exactly what to do about this. This is really the scariest problem to me, I will tell you.” ("É, eu nao tenho certeza do que fazer sobre isto. Vou te dizer, este é realmente o problema mais assustador que tenho”).

De acordo com Musk, o setor de transportes será o primeiro a ser atingido (o numero de trabalhadores estimado para o setor de transportes global é de 70 milhões, e estão com os dias contados), mas segundo ele próprio, a parte mais perigosa não será a extinção dos empregos, mas o poderio de uma inteligência artificial, que poderia “causar guerras com base em fake News, ‘sacanear’ contas de email e fazer falsos comunicados na mídia e manipular informações”.

Neste texto, iremos abordar apenas a questão dos empregos, não por ignorarmos a potencialidade perigosa da IA, mas para entendermos como ficará o trabalho, os salários e o consumo em um mundo automatizado.

Afinal, se os computadores e as máquinas serão as forças de trabalho no futuro, teremos finalmente um mundo com abundancia e o fim da desigualdade? Obviamente que não, uma vez que ainda existirá uma classe detentora dos meios de produção, detentora das máquinas e computadores. Mas leva um tempo para que os trabalhadores redirecionem sua raiva dos instrumentos materiais, para a forma do sistema que utiliza esses instrumentos. O sistema capitalista de produção é baseado na venda da força de trabalho do trabalhador como commodity. De certa forma, trabalhadores substituídos por máquinas tem o preço de sua força de trabalho “reduzido” de seu valor e, mais uma vez, temos de ressaltar, máquinas não deveriam competir com os trabalhadores. As máquinas deveriam ser um instrumento de libertação, de modo a permitir ao ser humano mais tempo livre para se desenvolver em todos os sentidos, e ao máximo.

Mas é possível atingir este objetivo sob o capitalismo?

Panem et circensem


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Mesmo com automação, ainda conseguimos abundância, porém, má distribuída. O grafico mostra a participação da força de trabalho na agricultura, desde 1300 - Por Max Roser

Máquinas devem servir ao ser humano, no momento em que a exploração acabar. Sob o capitalismo, automação é usada para enriquecer uma ‘tecnocracia’, que explora ainda mais os trabalhadores com a ameaça sobre a garantia de seu emprego, o que contribui para a miséria, desemprego, desigualdade e opressão.


A solução capitalista é a de uma Renda Básica Universal (que deverá ser paga pelo governo). A equação RBU + automação + capitalismo, na melhor das hipóteses, vai transformar a classe trabalhadora em commodity de consumidores para empresas (na verdade, isto já acontece, mas se tornará a regra). Elon Musk (cada dia que passa ele cria mais e mais companhias), Zuckerberg (CEO do Facebook, onde o usuário é o PRODUTO) todos grandes entusiastas da RBU. Uma vez a classe trabalhadora não tendo mais seu propósito como força produtiva (explorada), a negligência pode ser catastrófica. Desta forma, tudo estaria nas mãos dos ricos. O poder da classe trabalhadora em produzir e ter poder sobre a produção (única coisa que talvez nos garanta a sobrevivência) não existirá mais.

Talvez você pense: “Mas automação acabará com trabalhos que não requerem ‘habilidades’ e isso não compromete o meu emprego. Assim, as pessoas irão se especializar e farão trabalhos mais complexos, como sempre ocorreu até hoje”. Mesmo arrastando milhares ou milhões de pessoas para o ensino superior, os BOTs e Inteligência Artificial estão chegando mais rápido do que você imagina, e substituir numerosos e caros profissionais é muito mais valioso para as companhias do que substituir os “sem habilidades”. E mais uma vez, você pode continuar a acreditar que jamais existirá um Bot que faça o seu programa, porque um programador não poderá ensinar tudo ao computador. Bom, mas o problema não são os super inteligentes programadores escrevendo códigos para os Bots, mas super inteligentes programadores criando bots que se auto ensinem a fazerem coisas que um programador nunca poderia ensinar. Um exemplo disso é a própria Bolsa de Valores, onde Bots se ensinaram a fazer transações com outros Bots, mostrado aqui. Lembre-se, as pessoas acreditavam que o xadrez era algo único da habilidade humana, e que uma máquina jamais poderia fazê-lo. Até que uma máquina derrotou o melhor de nós (aqui).