-Por Ramon Carlos
Durante séculos, a Inglaterra foi a grande ditadora de
regras para o mundo. Sua hegemonia foi tal, ao ponto de seus interesses fossem capazes
de os fazer invadir (mesmo que fosse com exploradores, porém com aval do
governo britânico) quase o mundo todo. Uma pesquisa de 2012 analisou a história
de mais de 200 países e concluiu que, dos 193 países reconhecidos hoje pelas
Nações Unidas, 171 (88,6%) foram invadidos pelos britânicos em algum momento de
sua história [1]. No Brasil, os britânicos invadiram, saquearam e ocuparam, as
cidades de São Vicente e Santos, em 1591 [2].
Desde o final do século XIX, os Estados Unidos já eram
a maior potência industrial do mundo, com um PIB 30% maior que o da Grã
Bretanha. Porém, devido ao fato de os Estados Unidos estarem em uma situação de
isolamento, a Europa era a referência financeira, de onde todos emprestavam
dinheiro.
Com a primeira guerra, a Europa e suas principais
potências serviram como palco. Seus investimentos para esta época foram de
cerca de 4 vezes seu PIB, e além disso, arcar com sua reconstrução. As potências europeias perderam no conflito
a maior parte de suas reservas de ouro. Por outro lado, de 1913 a 1919, os
Estados Unidos dobraram seus estoques de metais preciosos. Eles detinham 40% do
ouro mundial no fim da guerra, e 50% em 1923 [3].
Na Segunda Guerra, o palco mais uma vez foi a Europa,
como que acontecesse um “segundo tempo” da primeira guerra. Os Estados Unidos
só entraram nos anos finais, com nenhum dano em seu território, exceto por Pearl Harbor*,
no Hawaii, deixando suas indústrias, sua produção e população intactas. Foi também
neste período, aconteceu a chamada conferência de Bretton Woods, de 1944, a
qual estabeleceu o dólar como moeda principal da reserva nacional, deixando de lado
o padrão-ouro, dando origem ao Banco Internacional e ao famoso FMI. [4]
*Fato decisivo para o ingresso
americano na guerra, uma vez que sua população era fortemente contrária à
participação. Forçar o Japão a atacar o Hawaii foi crucial para reverter a decisão
da população e fazer com que muitos se voluntariassem à guerra no pacífico (na
Europa, somente após Alemanha e Itália declararem guerra aos EUA) [5].
Com o final da guerra, a Europa estava arrasada. Os
Estados Unidos mantinham seu território intacto, sua produção e ajuda na
reconstrução dos países europeus e, claro, reconstrução do Japão, que o próprio
Estados Unidos destruíram, a criação da OTAN e o Plano Marshall foram as chaves
para se manter o controle econômico e estratégico americano. Nesta época, os
Estados Unidos tinham, sozinhos, mais da metade do PIB mundial (atualmente 21%)
e 60% da produção industrial (atualmente 25%) [6]. Enquanto o New Deal
propriamente gerou um crescimento em torno de 43% nos seus 4 anos, a II Guerra
Mundial dobrou o PIB dos Estados Unidos, o crescimento ali foi de 105% (José
Menezes Gomes, 2003, p.11).
Com os desfechos da II Guerra Mundial, Estados Unidos
e URSS seriam os protagonistas da chamada Guerra-Fria. Para contrapor o
fortalecimento soviético pós guerra, os Estados Unidos e a OTAN estiveram
diretamente ligados, com auxílio do Plano Marshall, com investimentos militares em
diversos países europeus e asiáticos.
Em 1945, a Coréia havia recuperado o controle da
península do imperialismo japonês, com ajuda tanto soviética, na Manchúria, quanto
americana (derrota do Japão em 1945). Em 1948, dividida em Norte e Sul, a península
Coreana era importante para os Norte Americanos, tanto para frear um avanço
soviético (embora a Coréia do Norte estivesse mais alinhada historicamente à
China), tanto ter um local estratégico militar no leste da Ásia.
Antes mesmo da II Guerra Mundial ou da Guerra fria, os
EUA já tinham um histórico de invasões, visando seus interesses locais e globais.
Com a Guerra-Fria, o pretexto só foi ampliado. Qualquer país que ousasse, seja
via revolta popular, seja por alinhamento político, se aproximar do socialismo
(a ameaça vermelha), os Estados Unidos não poupavam esforços para sufocar as revoltas
ou destituir o governo e interferir na soberania nacional de vários países. A
América Latina é um exemplo das invasões, como a invasão da Baia dos Porcos em Cuba, bem como a Guerra das Bananas, anterior à Guerra-Fria.
Alguns exemplos destas intervenções são:
Haiti - 1915/1934 – Tropas americanas desembarcam no Haiti,
em 28 de julho, e transformam o país numa colônia, permanecendo lá durante 19
anos; [7]
Honduras - 1912 – Tropas norte americanas mais uma vez invadem
Honduras para proteger interesses do capital americano; 1919 – Fuzileiros
desembarcam e invadem mais uma vez o país durante eleições, colocando no poder
um governo a seu serviço;
Guatemala - 1954 – Comandos americanos orientados pela CIA
derrubam o presidente Jacobo Arbenz, democraticamente eleito e impõem uma
ditadura militar no país. Arbenz havia nacionalizado a empresa United Fruit e realizava
a reforma agrária; 1966/1967 – Boinas Verdes e marines invadem o país para
combater movimento revolucionário;
Nicarágua - 1912/1933- EUA invadem com tropas com a desculpa de
combaterem guerrilheiros e ocupam o país durante 20 anos; [8]
Cuba - 1912 – Tropas invadem o país com a desculpa de
proteger interesses americanos em Havana; 1917/1933 – Tropas desembarcam e
transformam o país num protetorado econômico americano, permanecendo essa
ocupação por 16 anos; 1961 – Exilados anticastritas nos EUA, treinados pela CIA
e pelo exército norte-americano invadem a Baía dos Porcos. São rechaçados no
episódio denominado La Batalia de Giron; [9]
Estes citados acima são apenas alguns. Os Estados
Unidos estiveram envolvidos também no Panamá, República Dominicana, Granada, El
Salvador, Porto Rico, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Peru, Colômbia, Argentina.
Brasil, Argentina e Chile sofreram com as derrubadas
de presidentes progressistas que mexiam diretamente com interesses americanos. No
Brasil, em 1964, temendo que o
presidente João Goulart “transformasse o Brasil numa China de 1960”, nas
palavras de Lincoln Gordon, os EUA
apoiaram o golpe liderado pelo Marechal Humberto Castelo Branco, então chefe do
Estado Maior das Forças Armadas. Nos dias anteriores ao golpe, a CIA encorajou
manifestações contra o governo, promoveu ampla campanha de calúnias com o apoio
da grande mídia e apoio estratégico. [10]
Mas claro, a atuação americana não fica restrita
apenas à América. Por exemplo Iugoslávia, após a morte de Josip Tito e com a
queda do bloco Soviético. A guerra das Coreias, citado anteriormente, que
contou com invasão americana na península (primeira derrota americana pós
guerra), outros países também de destacam, como é o caso do Vietnam, cuja
história se assemelha em muito a da Coréia.
Resumidamente: A partir de 1930, o Partido Comunista
lidera várias lutas de libertação na Indochina. O Vietnam também é invadido
pelo império Japonês durante a II Guerra, e liberto após seu fim. O país também
é dividido em dois. O governo do sul, do imperador Bao Daí, é derrubado e
proclamada a República no Vietnam do Sul. Instala-se uma ditadura com apoio dos
EUA. O Norte tinha apoio da URSS. O presidente americano Johnson, autoriza
bombardeios aéreos sistemáticos e, em seguida, envia tropas norte-americanas.
Os vietnamitas resistem heroicamente e os EUA, derrotados, aceitam um cessar
fogo em 1973 e retiram suas tropas. O governo sul vietnamita resiste por dois
anos até que apresenta rendição incondicional. [11]
Após o fim da Guerra-Fria, e a consolidação hegemônica
americana, o inimigo agora havia mudado. Não eram mais os soviéticos e comunistas (quer
dizer, estão em segundo plano sofrendo perseguições por todo canto, mas não
abertamente como durante os anos 1960,70 e 80).
Segundo o Pentágono, mais de 64.000
militares estadunidenses estão estacionados na Europa, em bases na Alemanha,
Espanha, e repúblicas ex-soviéticas do Báltico, e outros 3.000 na Turquia. Nos
últimos anos Washington incrementou suas atividades bélicas no contionente
europeu, ações que tem sido denunciada pela Rússia como uma ameaça aos seus
interesses.
O terrorismo
tomou conta das manchetes, e o cavaleiro da guerra continuaria a cavalgar. A indústria
armamentista não pode parar, assim como o consumo agora é incentivado, e para
tal, a busca por combustíveis deve ser constante. Talvez explique o porquê da
preferência americana em assuntos no Oriente Médio.
Decorreremos aos fatos. Durante os anos de
Guerra-Fria, os Estados Unidos financiaram inúmeros grupos fundamentalistas
nacionalistas islâmicos. Como afirma Zbigniew Brzezinski (Conselheiro de
Segurança Nacional do presidente Jimmy Carter):
“Segundo a versão oficial da
história, a ajuda da CIA aos mujahideen começou em 1980, ou seja, depois de o
exército soviético ter invadido o Afeganistão, em 24 de Dezembro de 1979. Mas,
a realidade, guardada em segredo até hoje (1998), é totalmente diferente. Com
efeito, foi em 3 de Julho de 1979 que o presidente Carter assinou a primeira
diretiva para o apoio secreto aos opositores do regime pró-soviético de Cabul.
E nesse mesmo dia, escrevi uma nota ao Presidente em que lhe explicava que, na
minha opinião, este apoio iria provocar uma intervenção militar soviética.
Temos agora a oportunidade de dar à
URSS a sua Guerra do Vietnam. Com efeito, Moscou teve que travar, durante quase
10 anos, uma guerra insustentável para o governo, um conflito que provocou a
desmoralização e pôr fim a dissolução do império soviético”. [12]
Desta forma, o controle e a paz do Oriente Médio
passam pelas mãos americanas e, segundo o site Librered.net, os EUA contam com:
“9.800 invasores no
Afeganistão. O presidente Barack Obama,
anunciou no dia 15 de outubro de 2015 a sua decisão de manter os 9.800
militares que estão atualmente no Afeganistão, reduzindo essa quantidade para
5.500 em 2017, depois que terminar seu mandato na Casa Branca. Desde o início
da invasão, em outubro de 2011, dados oficiais dão conta de que já morreram
mais de 2.400 oficiais e soldados estadunidenses, e outros 20 mil foram
feridos.
Há 3.500 invasores no Iraque e
Síria.
Também no Golfo Pérsico opera um
grupo anfíbio de infantaria da Marinha, com capacidade para cumprir missões
ofensivas de desembarque, encabeçado pelo navio USS Kearsarge, com mais 5.000
marinheiros à bordo.
Existe a Força Tarefa Combinada
Conjunta do Corno da África, com mais de 4.000 militares estadunidenses, enquanto
outros mil estão colocados em várias outras partes da região.
São quase 200 mil soldados
espalhados por todo o mundo, fazendo guerra. Não foram computados os dados dos
números de agentes secretos da CIA e outras agências de igual teor, também
espalhados pelo planeta, criando o caos e o terror, preparando os conflitos”. [13]
Com todo o envolvimento americano em todos os
continentes, principalmente nas áreas estratégicas, sejam elas militares ou
regiões ricas em recursos naturais e combustíveis, é parte importante na
estratégia hegemônica americana.
A Rússia ainda exerce certa influência, com Putin (reeleito
recentemente, na qual recebeu 76% dos votos e somará 24 anos na frente do país),
o país retomou certo lugar de importância geopolítica, lugar este que só a URSS
foi capaz de ocupar, frente aos Estados Unidos, e que fazem este pensar duas
vezes antes de tomar certas atitudes. Isto se reforça ainda mais, com o
pronunciamento recente de Putin, ao qual apresenta as novas estrelas do arsenal
de seu país, incluindo mísseis balísticos que, segundo afirma, poderiam
alcançar qualquer ponto da Terra e seriam impossíveis de serem interceptados
por escudos dos Estados Unidos e da Otan [14].
Ressuscitando ou não os tempos de Guerra-Fria, com o
discurso bélico tendo impacto direto nas relações entre os países, e com a
postura mais dura com que Putin tem tratado a diplomacia da Rússia com a UE [15],
o fato é que a hegemonia americana ainda é gigantesca, e contrariar seus
interesses ainda custa vidas ao redor do mundo e governos são meros detalhes
para os países subordinados à Eles.
Referências Bibliográficas:
[1] https://mundoestranho.abril.com.br/historia/qual-nacao-mais-invadiu-outros-paises-na-historia/
[2] http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff180119.htm
[3] www.em.com.br/app/noticia/internacional/2014/06/26/interna_internacional,542966/a-potencia-americana-emerge-dos-escombros-da-europa.shtml
[4]
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,veja-como-o-dolar-se-tornou-a-moeda-de-referencia-mundial,400908
[5]
https://www.washingtonpost.com/opinions/five-myths-about-pearl-harbor/2011/11/23/gIQAbdKrLO_story.html?utm_term=.e66a67cd3ffc
[6] https://www.infopedia.pt/$hegemonia-dos-eua
[7] http://www.nytimes.com/2012/01/01/books/review/haiti-the-aftershocks-of-history-by-laurent-dubois-book-review.html?pagewanted=2
[8]
http://www.stanford.edu/group/arts/nicaragua/discovery_sp/timeline/
[9]
https://www.theguardian.com/world/2007/jun/27/usa.cuba
[10] http://history.state.gov/historicaldocuments/frus1964-68v31/d198
[11] Revolução Vietnamita - Paulo Fagundes Visentini
[12]
http://www.globalresearch.ca/articles/BRZ110A.html
[13] http://www.iela.ufsc.br/noticia/os-estados-unidos-invadem-militarmente-o-mundo-inteiro
[14]
http://www.dw.com/pt-br/putin-revela-novo-arsenal-nuclear-russo/a-42786544
[15]
http://www.dw.com/pt-br/a-conflituosa-pol%C3%ADtica-externa-da-r%C3%BAssia/a-43007771
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