Hegemonia americana – Geopolítica, Golpes e Guerras - Estado Alterado

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segunda-feira, 19 de março de 2018

Hegemonia americana – Geopolítica, Golpes e Guerras

Desde o fim da Segunda Guerra mundial (1945), os Estados Unidos tomaram para si o protagonismo, tanto militar quanto geopolítico, da Inglaterra, mantendo bases e influência militares em grande parte do mundo, além de tentarem passar uma mensagem de bons mocinhos, e que só estão presentes globalmente para impedir que o mal avance.

-Por Ramon Carlos
Durante séculos, a Inglaterra foi a grande ditadora de regras para o mundo. Sua hegemonia foi tal, ao ponto de seus interesses fossem capazes de os fazer invadir (mesmo que fosse com exploradores, porém com aval do governo britânico) quase o mundo todo. Uma pesquisa de 2012 analisou a história de mais de 200 países e concluiu que, dos 193 países reconhecidos hoje pelas Nações Unidas, 171 (88,6%) foram invadidos pelos britânicos em algum momento de sua história [1]. No Brasil, os britânicos invadiram, saquearam e ocuparam, as cidades de São Vicente e Santos, em 1591 [2].

Desde o final do século XIX, os Estados Unidos já eram a maior potência industrial do mundo, com um PIB 30% maior que o da Grã Bretanha. Porém, devido ao fato de os Estados Unidos estarem em uma situação de isolamento, a Europa era a referência financeira, de onde todos emprestavam dinheiro.

Com a primeira guerra, a Europa e suas principais potências serviram como palco. Seus investimentos para esta época foram de cerca de 4 vezes seu PIB, e além disso, arcar com sua reconstrução. As potências europeias perderam no conflito a maior parte de suas reservas de ouro. Por outro lado, de 1913 a 1919, os Estados Unidos dobraram seus estoques de metais preciosos. Eles detinham 40% do ouro mundial no fim da guerra, e 50% em 1923 [3].

Na Segunda Guerra, o palco mais uma vez foi a Europa, como que acontecesse um “segundo tempo” da primeira guerra. Os Estados Unidos só entraram nos anos finais, com nenhum dano em seu território, exceto por Pearl Harbor*, no Hawaii, deixando suas indústrias, sua produção e população intactas. Foi também neste período, aconteceu a chamada conferência de Bretton Woods, de 1944, a qual estabeleceu o dólar como moeda principal da reserva nacional, deixando de lado o padrão-ouro, dando origem ao Banco Internacional e ao famoso FMI. [4]

*Fato decisivo para o ingresso americano na guerra, uma vez que sua população era fortemente contrária à participação. Forçar o Japão a atacar o Hawaii foi crucial para reverter a decisão da população e fazer com que muitos se voluntariassem à guerra no pacífico (na Europa, somente após Alemanha e Itália declararem guerra aos EUA) [5].

Com o final da guerra, a Europa estava arrasada. Os Estados Unidos mantinham seu território intacto, sua produção e ajuda na reconstrução dos países europeus e, claro, reconstrução do Japão, que o próprio Estados Unidos destruíram, a criação da OTAN e o Plano Marshall foram as chaves para se manter o controle econômico e estratégico americano. Nesta época, os Estados Unidos tinham, sozinhos, mais da metade do PIB mundial (atualmente 21%) e 60% da produção industrial (atualmente 25%) [6]. Enquanto o New Deal propriamente gerou um crescimento em torno de 43% nos seus 4 anos, a II Guerra Mundial dobrou o PIB dos Estados Unidos, o crescimento ali foi de 105% (José Menezes Gomes, 2003, p.11).

Com os desfechos da II Guerra Mundial, Estados Unidos e URSS seriam os protagonistas da chamada Guerra-Fria. Para contrapor o fortalecimento soviético pós guerra, os Estados Unidos e a OTAN estiveram diretamente ligados, com auxílio do Plano Marshall, com investimentos militares em diversos países europeus e asiáticos.

Em 1945, a Coréia havia recuperado o controle da península do imperialismo japonês, com ajuda tanto soviética, na Manchúria, quanto americana (derrota do Japão em 1945). Em 1948, dividida em Norte e Sul, a península Coreana era importante para os Norte Americanos, tanto para frear um avanço soviético (embora a Coréia do Norte estivesse mais alinhada historicamente à China), tanto ter um local estratégico militar no leste da Ásia.


Antes mesmo da II Guerra Mundial ou da Guerra fria, os EUA já tinham um histórico de invasões, visando seus interesses locais e globais. Com a Guerra-Fria, o pretexto só foi ampliado. Qualquer país que ousasse, seja via revolta popular, seja por alinhamento político, se aproximar do socialismo (a ameaça vermelha), os Estados Unidos não poupavam esforços para sufocar as revoltas ou destituir o governo e interferir na soberania nacional de vários países. A América Latina é um exemplo das invasões, como a invasão da Baia dos Porcos em Cuba, bem como a Guerra das Bananas, anterior à Guerra-Fria.
Alguns exemplos destas intervenções são:

Haiti - 1915/1934 – Tropas americanas desembarcam no Haiti, em 28 de julho, e transformam o país numa colônia, permanecendo lá durante 19 anos; [7]
Honduras - 1912 – Tropas norte americanas mais uma vez invadem Honduras para proteger interesses do capital americano; 1919 – Fuzileiros desembarcam e invadem mais uma vez o país durante eleições, colocando no poder um governo a seu serviço;
Guatemala - 1954 – Comandos americanos orientados pela CIA derrubam o presidente Jacobo Arbenz, democraticamente eleito e impõem uma ditadura militar no país. Arbenz havia nacionalizado a empresa United Fruit e realizava a reforma agrária; 1966/1967 – Boinas Verdes e marines invadem o país para combater movimento revolucionário;
Nicarágua - 1912/1933- EUA invadem com tropas com a desculpa de combaterem guerrilheiros e ocupam o país durante 20 anos; [8]
Cuba - 1912 – Tropas invadem o país com a desculpa de proteger interesses americanos em Havana; 1917/1933 – Tropas desembarcam e transformam o país num protetorado econômico americano, permanecendo essa ocupação por 16 anos; 1961 – Exilados anticastritas nos EUA, treinados pela CIA e pelo exército norte-americano invadem a Baía dos Porcos. São rechaçados no episódio denominado La Batalia de Giron; [9]

Estes citados acima são apenas alguns. Os Estados Unidos estiveram envolvidos também no Panamá, República Dominicana, Granada, El Salvador, Porto Rico, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Peru, Colômbia, Argentina.

Brasil, Argentina e Chile sofreram com as derrubadas de presidentes progressistas que mexiam diretamente com interesses americanos. No Brasil, em 1964, temendo que o presidente João Goulart “transformasse o Brasil numa China de 1960”, nas palavras de Lincoln Gordon, os EUA apoiaram o golpe liderado pelo Marechal Humberto Castelo Branco, então chefe do Estado Maior das Forças Armadas. Nos dias anteriores ao golpe, a CIA encorajou manifestações contra o governo, promoveu ampla campanha de calúnias com o apoio da grande mídia e apoio estratégico. [10]

Mas claro, a atuação americana não fica restrita apenas à América. Por exemplo Iugoslávia, após a morte de Josip Tito e com a queda do bloco Soviético. A guerra das Coreias, citado anteriormente, que contou com invasão americana na península (primeira derrota americana pós guerra), outros países também de destacam, como é o caso do Vietnam, cuja história se assemelha em muito a da Coréia.

Resumidamente: A partir de 1930, o Partido Comunista lidera várias lutas de libertação na Indochina. O Vietnam também é invadido pelo império Japonês durante a II Guerra, e liberto após seu fim. O país também é dividido em dois. O governo do sul, do imperador Bao Daí, é derrubado e proclamada a República no Vietnam do Sul. Instala-se uma ditadura com apoio dos EUA. O Norte tinha apoio da URSS. O presidente americano Johnson, autoriza bombardeios aéreos sistemáticos e, em seguida, envia tropas norte-americanas. Os vietnamitas resistem heroicamente e os EUA, derrotados, aceitam um cessar fogo em 1973 e retiram suas tropas. O governo sul vietnamita resiste por dois anos até que apresenta rendição incondicional. [11]

Após o fim da Guerra-Fria, e a consolidação hegemônica americana, o inimigo agora havia mudado.  Não eram mais os soviéticos e comunistas (quer dizer, estão em segundo plano sofrendo perseguições por todo canto, mas não abertamente como durante os anos 1960,70 e 80).

Segundo o Pentágono, mais de 64.000 militares estadunidenses estão estacionados na Europa, em bases na Alemanha, Espanha, e repúblicas ex-soviéticas do Báltico, e outros 3.000 na Turquia. Nos últimos anos Washington incrementou suas atividades bélicas no contionente europeu, ações que tem sido denunciada pela Rússia como uma ameaça aos seus interesses.

O terrorismo tomou conta das manchetes, e o cavaleiro da guerra continuaria a cavalgar. A indústria armamentista não pode parar, assim como o consumo agora é incentivado, e para tal, a busca por combustíveis deve ser constante. Talvez explique o porquê da preferência americana em assuntos no Oriente Médio.

Decorreremos aos fatos. Durante os anos de Guerra-Fria, os Estados Unidos financiaram inúmeros grupos fundamentalistas nacionalistas islâmicos. Como afirma Zbigniew Brzezinski (Conselheiro de Segurança Nacional do presidente Jimmy Carter):

“Segundo a versão oficial da história, a ajuda da CIA aos mujahideen começou em 1980, ou seja, depois de o exército soviético ter invadido o Afeganistão, em 24 de Dezembro de 1979. Mas, a realidade, guardada em segredo até hoje (1998), é totalmente diferente. Com efeito, foi em 3 de Julho de 1979 que o presidente Carter assinou a primeira diretiva para o apoio secreto aos opositores do regime pró-soviético de Cabul. E nesse mesmo dia, escrevi uma nota ao Presidente em que lhe explicava que, na minha opinião, este apoio iria provocar uma intervenção militar soviética.
Temos agora a oportunidade de dar à URSS a sua Guerra do Vietnam. Com efeito, Moscou teve que travar, durante quase 10 anos, uma guerra insustentável para o governo, um conflito que provocou a desmoralização e pôr fim a dissolução do império soviético”. [12]

Desta forma, o controle e a paz do Oriente Médio passam pelas mãos americanas e, segundo o site Librered.net, os EUA contam com:

“9.800 invasores no Afeganistão.  O presidente Barack Obama, anunciou no dia 15 de outubro de 2015 a sua decisão de manter os 9.800 militares que estão atualmente no Afeganistão, reduzindo essa quantidade para 5.500 em 2017, depois que terminar seu mandato na Casa Branca. Desde o início da invasão, em outubro de 2011, dados oficiais dão conta de que já morreram mais de 2.400 oficiais e soldados estadunidenses, e outros 20 mil foram feridos.
Há 3.500 invasores no Iraque e Síria.
Também no Golfo Pérsico opera um grupo anfíbio de infantaria da Marinha, com capacidade para cumprir missões ofensivas de desembarque, encabeçado pelo navio USS Kearsarge, com mais 5.000 marinheiros à bordo.
Existe a Força Tarefa Combinada Conjunta do Corno da África, com mais de 4.000 militares estadunidenses, enquanto outros mil estão colocados em várias outras partes da região.
São quase 200 mil soldados espalhados por todo o mundo, fazendo guerra. Não foram computados os dados dos números de agentes secretos da CIA e outras agências de igual teor, também espalhados pelo planeta, criando o caos e o terror, preparando os conflitos”. [13]


Com todo o envolvimento americano em todos os continentes, principalmente nas áreas estratégicas, sejam elas militares ou regiões ricas em recursos naturais e combustíveis, é parte importante na estratégia hegemônica americana.

A Rússia ainda exerce certa influência, com Putin (reeleito recentemente, na qual recebeu 76% dos votos e somará 24 anos na frente do país), o país retomou certo lugar de importância geopolítica, lugar este que só a URSS foi capaz de ocupar, frente aos Estados Unidos, e que fazem este pensar duas vezes antes de tomar certas atitudes. Isto se reforça ainda mais, com o pronunciamento recente de Putin, ao qual apresenta as novas estrelas do arsenal de seu país, incluindo mísseis balísticos que, segundo afirma, poderiam alcançar qualquer ponto da Terra e seriam impossíveis de serem interceptados por escudos dos Estados Unidos e da Otan [14].

Ressuscitando ou não os tempos de Guerra-Fria, com o discurso bélico tendo impacto direto nas relações entre os países, e com a postura mais dura com que Putin tem tratado a diplomacia da Rússia com a UE [15], o fato é que a hegemonia americana ainda é gigantesca, e contrariar seus interesses ainda custa vidas ao redor do mundo e governos são meros detalhes para os países subordinados à Eles.

Referências Bibliográficas:
[1] https://mundoestranho.abril.com.br/historia/qual-nacao-mais-invadiu-outros-paises-na-historia/
[2] http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff180119.htm
[3] www.em.com.br/app/noticia/internacional/2014/06/26/interna_internacional,542966/a-potencia-americana-emerge-dos-escombros-da-europa.shtml
[4] http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,veja-como-o-dolar-se-tornou-a-moeda-de-referencia-mundial,400908
[5] https://www.washingtonpost.com/opinions/five-myths-about-pearl-harbor/2011/11/23/gIQAbdKrLO_story.html?utm_term=.e66a67cd3ffc
[6] https://www.infopedia.pt/$hegemonia-dos-eua
[7] http://www.nytimes.com/2012/01/01/books/review/haiti-the-aftershocks-of-history-by-laurent-dubois-book-review.html?pagewanted=2
[8] http://www.stanford.edu/group/arts/nicaragua/discovery_sp/timeline/
[9] https://www.theguardian.com/world/2007/jun/27/usa.cuba
[10] http://history.state.gov/historicaldocuments/frus1964-68v31/d198
[11] Revolução Vietnamita - Paulo Fagundes Visentini
[12] http://www.globalresearch.ca/articles/BRZ110A.html
[13] http://www.iela.ufsc.br/noticia/os-estados-unidos-invadem-militarmente-o-mundo-inteiro
[14] http://www.dw.com/pt-br/putin-revela-novo-arsenal-nuclear-russo/a-42786544
[15] http://www.dw.com/pt-br/a-conflituosa-pol%C3%ADtica-externa-da-r%C3%BAssia/a-43007771  

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