- Por Ramon Carlos
Com
as eleições presidenciais estadunidenses, o brasileiro foi apresentado
(oficialmente através da mídia) à Donald Trump. Com uma fortuna estimada na
casa dos 7 Bilhões de dólares, herdada de seu pai Fred Trump, que a “construiu”
dentro do ramo de construção civil, por onde fazia seus prédios com custo
abaixo do orçamento financiado pelo governo e embolsava o restante. Trump
seguiu e “aprimorou” a “carreira” do pai, e passou a construir torres de luxo
em vez de prédios residenciais. [1]
Em
2003, Trump se tornou apresentador do reality show The Apprentice (O Aprendiz),
da rede NBC, e com o sucesso, recebeu uma estrela na calçada da fama em Hollywood.
Tem participação em vários seriados, como Os Simpsons e Um Maluco no Pedaço, devido
a sua fortuna.
Durante
sua campanha presidencial, Trump buscava ser o centro das atenções, com
discursos (mesmo que infames e cheios de absurdos) carismáticos, além de sempre
buscar o embate direto contra seus adversários.
Sua
política foi e é focada proteger e recuperar a indústria americana, com
atitudes bastante protecionistas, chegando a ameaçar aumentar os impostos de
montadoras que continuassem a montar automóveis fora dos EUA, além temas polêmicos,
como imigração e no fortalecimento da ideia de inimigos externos.
É
importante também lembrar que os Estados Unidos jamais passaram por uma
ditadura. Diferente do Brasil onde jamais uma geração nasceu, cresceu e morreu
durante período democrático.
E Duterte?
Nem
tão conhecido dos brasileiros, Duterte é presidente das Filipinas e, diferente
de Trump, foi prefeito da cidade de Davao por 21 anos (7 mandatos de três anos)
além de ter sido vice-prefeito e deputado por um distrito. Focou sua campanha
populista à presidência no combate ao crime com tolerância zero, já que durante
o período em que foi prefeito, ficou conhecido por apoiar e defender esquadrões
da morte, além de ser acusado de ordenar a morte de mais de mil prisioneiros em
execuções extrajudiciais. [2]
Com
Duterte eleito presidente em 2016, as Filipinas, segundo entidades dos Direitos
Humanos, executaram mais de 12 mil suspeitos, onde um terço feito diretamente
por policiais [3]. Parece bastante óbvio que dentro destes “suspeitos” a
maioria seria pobre, e inclui também trabalhadores como pedreiros, motoristas,
agricultores, lixeiros, etc. como mostra uma pesquisa da Ateneo School of
Government da Universidade de Manila. [4]
Quando
Duterte disse que mataria, ele falava sério. Em 78 dias de mandato, mais de
3mil pessoas foram mortas pelas forças policiais. Duterte chegou ao ponto de se
comparar a Hitler, alegando que “Hitler
massacrou três milhões de judeus. Agora, há aqui três milhões de viciados.
Gostaria de matá-los a todos”.[5]
Então
chegamos ao ponto. Existe uma grande diferença entre Bolsonaro e Trump, mas, se
ele pode ser comparado a alguma outra figura política, Duterte é o seu match.
Passam a ideia de serem outsiders, como Trump, alguém fora do jogo político
como se conhece, porém, suas trajetórias nos mostram que não só são parte deste
mesmo establishment ao qual seus seguidores dizem se opor, como cresceram dentro
dele.
Bolsonaro
foi deputado durante 29 anos pelo estado do Rio de Janeiro, aprovou 2 projetos
e multiplicou seu patrimônio [6], sem contar que elegeu seus filhos e empregou alguns
fantasmas [7][8]. Bolsonaro é saudosista da Ditadura Militar brasileira,
chegando a elogiar um torturador durante votação na Câmara dos Deputados. Assim
como Duterte, exaltador dos tempos de Ferdinando Marcos, que governou as
Filipinas durante os anos de 1965 e 1986, ao qual foi responsável por
perseguições políticas, prisão de opositores e pela instauração de lei marcial.
Foi acusado pela prisão e morete de mais de 100 mil filipinos, sem contar os
inúmeros casos de corrupção (inclusive de ter apropriado de mais de 10 Bilhões
de dólares de fundos públicos). [9]
Bom,
é bastante visível que ambos Bolsonaro e Duterte foram crias do mesmo ninho.
Porém, a notoriedade de Bolsonaro se deve a suas participações em programas de
televisão pouco usuais para um parlamentar, nos quais ele basicamente fazia
papel de palhaço e suas ideias tão absurdas eram motivo de chacota e “olha só o
que esse cara falou”. Jair enfatiza seu discurso em um nacionalismo fajuto, que
nem mesmo ele acredita [10][11], e em uma política centrada em um bode expiatório,
ou inimigo interno.
O
professor de Relações Internacionais da PUC e pesquisador da Gerogetown
University de Washington, Carlos Gustavo Poggio explica que “o discurso da
criminalidade cumpre no Brasil e nas Filipinas o papel que o discurso da
imigração cumpre nos países desenvolvidos (...). É um populismo penal, que
oferece soluções simples para problemas complexos”.
Duterte
declarou que perdoaria qualquer policial que matasse traficantes ou usuários de
drogas, afirmando que tal medida visava assegurar as forças policiais de que
não seriam culpabilizadas pelos atos [12]. O discurso parece familiar? Claro
que parece, afinal, Bolsonaro e sua ninhada defendem as mesmas ações, afirmando
“Se alguém disser que quero dar carta branca para policial militar matar, eu
respondo: quero sim” [13].
“Bolsonaro
e Duterte tem uma ênfase forte na lei e na ordem, querem manter o controle e
não ligam se direitos humanos são violados. Falas como essa, ou quando
Bolsonaro elogia Pinochet e diz que o problema é que ele não matou mais, você
não ouvir o Trump ou a Marine Le Pen falar isso”, disse o cientista político Cristóbal
Rovira Kaltwasser. Até mesmo a líder da extrema direita francesa, Marine
Le Pen, criticou as falas de Bolsonaro [14].
Claro
que as realidade de Brasil e Filipinas são diferentes e complexas (assim como a
realidade estadunidense). Diferente de Duterte, Bolsonaro não terá uma ampla
maioria no congresso para que sua política possa passar pelo que ele chamou de “filtro”,
porém, já declarou que não enviará propostas ao Congresso antes de discuti-las
com parlamentares e entre as primeiras medidas, visa tipificar como “terrorismo”
as ações de movimentos sociais como o MST e o MTST (o qual um dos adversários políticos,
Guilherme Boulos, candidato pelo PSOL, faz parte) [15].
Muitos
duvidam de que Bolsonaro possa vir a ser este totalitário que suas frases tem
respaldo. Há quem acredite que as instituições democráticas brasileiras seriam
uma barreira contra eventuais abusos de um governo Bolsonaro. Mas, com a
escalada de crimes de ódio e de motivação política, deixa claro que as “instituições
não estão funcionando normalmente” (ou será que estão, hein Rosa Weber?), evidenciadas
pelo silencio do TSE frente às inúmeras acusações de caixa 2 e impulsionamento
de campanha via “fake News” pelo WhatsApp, e frente ao fato de um total
desinteresse do STF de se impor quando um dos filhotes Bolsonaro afirma que “basta
um soldado e um cabo para se fechar o STF” [17].
Bolsonaro
deixa claro que não quer os “Direitos Humanos” no Brasil. O discurso anti democrático
está presente em suas falas (e de seus aliados). Diante deste fato, é difícil permanecer
otimista.
“Este
é um presidente em potencial que abraça abertamente violações sistemáticas de
direitos humanos e direitos civis básicos que os brasileiros gastaram uma
geração lutando para conseguir e outra para para consolidar”, afirma Steven
Levitsky. “E, assim como Duterte, Bolsonaro promete apagá-los.”
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