Lutas na América Latina e no Caribe: uma revisão de 2018 - Estado Alterado

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domingo, 3 de fevereiro de 2019

Lutas na América Latina e no Caribe: uma revisão de 2018



Texto Original ANTICONQUISTA.COM. Traduzido por Ramon Carlos

Vladimir Lenin, líder da Revolução Bolchevique na Rússia, disse certa vez: “Há décadas em que nada acontece e há semanas em que acontecem décadas”. Em 2018, a esta última parte foi verdadeira para os eventos na América Latina e no Caribe.

Grandes desenvolvimentos políticos ocorreram este ano na região, intensificando a luta entre forças de esquerda/progressistas e de direita/reacionárias.

Duas das maiores potências da região, México e Brasil, se afastaram umas das outras em direções políticas opostas. O México, por um lado, elegeu o presidente progressista Andrés Manuel López Obrador (conhecido como AMLO), que está começando a introduzir programas sociais para os pobres do país e abalar o status quo. O Brasil, por outro lado, testemunhou a ascensão do presidente fascista Jair Bolsonaro, que está em guerra contra as massas negra, indígena, LGBTQ e da classe trabalhadora do Brasil. A Argentina e a Colômbia (terceira e quarta maiores nações da região, respectivamente) desceram ainda mais para a crise econômica neoliberal e para a violência do Estado de direita.

Enquanto isso, os governos progressistas e esquerdistas de Cuba, Venezuela, Bolívia e Nicarágua continuaram a construir o socialismo em seus respectivos países. Isto, apesar dos incessantes ataques diplomáticos e financeiros das potências imperialistas do Primeiro Mundo e dos seus cães de guarda de direita no país. Todos esses países ampliaram o comércio com a Rússia, China, Irã, Vietnã e o resto do eixo anti-imperialista do mundo, curando feridas de crises econômicas anteriores.

No resto da América Central, que é dominada por economias capitalistas de “mercado livre”, as condições de vida tornaram-se insuportáveis, milhares de pessoas foram forçadas a fugir de suas terras e a participar de caravanas de migrantes rumo ao norte. Esses migrantes que fugiam do capitalismo enfrentaram a repressão do Estado tanto pelos governos do México (sob o governo do ex-presidente Enrique Peña Nieto) quanto pelos Estados Unidos.

E no resto da América do Sul, que também avançou mais para a direita, o neoliberalismo e a austeridade continuaram a raspar ganhos progressivos feitos sob administrações anteriores. Isso foi exemplificado pela administração do presidente equatoriano, Lenin Moreno, que continuou cortando os gastos públicos com saúde, educação, moradia e outros programas sociais, enquanto aumentava a privatização nas principais empresas estatais.

No Caribe, um raio de esperança brilhou com a eleição da primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, a primeira mulher a ocupar seu cargo. Ela expandiu os laços com a Aliança Bolivariana para a Nossa América, ALBA, está enfrentando a enorme dívida externa de seu país e propôs reformas progressistas. O restante do Caribe, no entanto, ainda está se recuperando dos furacões que atingiram a região em 2017, juntamente com a pobreza capitalista. No Haiti, por exemplo, a classe trabalhadora liderou protestos maciços contra a corrupção de direita sob o governo do presidente Jovenel Moïse, cuja administração foi acusada de embolsar dinheiro vindo da PetroCaribe. E em Porto Rico, o povo ainda luta pela independência do imperialismo norte-americano.

Considerando todos esses eventos em 2018, não há dúvida de que as apostas para o socialismo na América Latina e no Caribe aumentaram, pois tanto a esquerda quanto a direita se polarizaram ainda mais.

CARIBE

O Caribe continua a ser uma região que enfrenta algumas das explorações mais brutais de corporações imperialistas e indústrias turísticas que só valorizam as ilhas na medida em que poderiam vendê-las a ocidentais ou pessoas ricas de todo o mundo. Hoje, quase 4,9 milhões de pessoas ainda vivem em colônias imperialistas de propriedade dos Estados Unidos, França, Reino Unido e Holanda.

Três das ilhas mais povoadas - Porto Rico, Guadalupe e Martinica - continuam a existir sob o controle dos Estados Unidos e da França. Sob controle estrangeiro, as ilhas são exploradas por seu belo ambiente e pelo trabalho. As vidas das pessoas que estão nas ilhas não significam nada para esses imperialistas estrangeiros que pouco fizeram para ajudar as mais de 4.000 pessoas que morreram no rescaldo do furacão Maria.

Em 2017, o Caribe registrou algumas das mais severas tempestades tropicais que destruíram muitas das nações, a maioria das quais ainda está lutando para se recuperar devido a enormes dívidas e políticas neoliberais impostas aos países por instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Essas questões chegaram ao ponto de ebulição em 2018. Milhões de pessoas, especialmente após os escândalos de corrupção generalizados revelados nos esforços de reconstrução em Porto Rico após o furacão Maria, passaram 2018 protestando e se manifestando contra os governos ‘compradores’ que estão do lado dos imperialistas.

No Haiti, as massas continuam sua resistência contra Moise e seu partido haitiano Tèt Kale. Moïse chegou ao poder no final de 2017 após uma eleição fraudada, que levou 14 meses para determinar um resultado. Seu partido continuou as reformas neoliberais. O povo haitiano, no entanto, se manifestou contra essas reformas - bem como os altos preços do gás e os baixos salários - durante todo o ano. Em julho, os haitianos fecharam o governo por três dias e, desde novembro, houve protestos em massa, bloqueios de estradas e campanhas organizadas em todo o país.

O povo está exigindo justiça para o escândalo maciço de corrupção envolvendo fundos da PetroCaribe, em que vários políticos de alto escalão roubaram dinheiro do povo e do país. Em resposta a esse ultraje, o governo continua a assassinar e prender pessoas arbitrariamente. Em alguns casos, as mulheres estão sendo forçadas a trabalhar em campos de prisioneiros por crimes como “baderna”, enquanto o governo se recusa a estabelecer serviços públicos de coleta de lixo.

Em novembro, o governo matou mais de 70 pessoas no massacre de La Saline, na capital de Porto Príncipe. Tudo isso enquanto as tropas da ONU ocupam o país, treinam esquadrões da morte e administram prisões onde as pessoas são mantidas sem julgamentos e as condições são atrozes. Isso também é um acréscimo ao escandaloso escândalo da OxFam que foi desfeito este ano, quando líderes da organização não governamental sediada no Reino Unido admitiram ter contratado profissionais do sexo com fundos de caridade após o terremoto de 2010. Com o aumento da repressão do governo haitiano e das forças imperialistas da ONU, o povo haitiano também está aumentando a força de sua resistência e espírito revolucionário.

Do outro lado da fronteira, na República Dominicana, o povo caribenho enfrenta uma questão semelhante de corrupção na presidência de Danilo Medina. O partido de Medina - Partido da Liberação Dominicana - é um grupo liberal que continua a apoiar reformas neoliberais e é maciçamente corrupto. O movimento Marcha Verde, que começou no ano passado, continuou a realizar manifestações e protestos para combater a corrupção na ilha. Em agosto, realizaram a maior marcha anticorrupção na capital, Santo Domingo. Neste mês, Marcha Verde conseguiu que mais de 20 organizações nacionais assinassem o “Compromisso cidadão contra a corrupção e a impunidade”, que exige o fim da corrupção e a impunidade dos políticos corruptos.

Nas Bahamas, as pessoas se levantaram na campanha “Chega! Já Basta”. Esta campanha exige que o governo das Bahamas, liderado pelo primeiro-ministro Hubert Minnis, diminua o custo da eletricidade e crie mais empregos. Além disso, o governo fez planos para se candidatar à adesão plena à Organização Mundial do Comércio (OMC), até 2019, além de construir um novo resort nacional para turistas estrangeiros. As pessoas estão indignadas com essas ações e, em vez disso, exigem a reforma agrária, mais empregos, uma redução no preço das necessidades básicas e melhores salários. Além disso, as pessoas se cansaram da atual administração e exigiram que Minnis renunciasse ao poder. Enquanto isso, Barbados testemunhou a eleição de Mottley. Mottley procura construir uma plataforma progressiva para o povo. No passado, ela elogiou o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez por seu trabalho e liderança.

Em Cuba, o presidente Miguel Díaz-Canel assumiu o posto mais alto da ilha, enquanto Raúl Castro fez uma pausa graciosa de alguns anos após a morte de Fidel Castro. Muitos da esquerda questionaram como seria o futuro do bastião revolucionário da América Latina sob a liderança de Díaz-Canel. Ele tem provado ao longo do ano defender os valores socialistas de Cuba e da esquerda. Em seu discurso de abertura, depois de aceitar sua nomeação pelo Parlamento de Cuba, ele reiterou o firme respeito de seu país e seus valores anti-imperialistas, observando que a revolução iria se consolidar neste período de transição. Díaz-Canel também removeu milhares de médicos do programa Mais Médicos do Brasil em novembro, após as ameaças de Bolsonaro à sua segurança e declaração unilateral para mudar suas condições contratuais, incluindo uma redução dos salários da equipe médica cubana. No geral, a integridade do Partido Comunista de Cuba está em boas mãos.

MESOAMÉRICA

No México, a eleição presidencial mais recente trouxe uma mudança histórica com a eleição de AMLO, que é membro do Movimiento Regeneración Nacional (Movimento Nacional de Regeneração, MORENA). Por que essa eleição foi um momento tão monumental na história mexicana? Para entender isso, devemos refletir brevemente sobre a história política da segunda maior nação da América Latina.

O México foi governado continuamente por sete décadas pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI), um partido neoliberal conservador, cujo governo é caracterizado pela privatização de empresas estatais e reformas de austeridade. Isto foi seguido por dois mandatos, ou 12 anos, sob o governo do Partido Ação Nacional (PAN) com os presidentes Vicente Fox (2000-2006) e Felipe Calderón (2006-2012). Calderón é mais conhecido por iniciar a “Guerra às Drogas” no México, aumentando a militarização do país, violando os direitos humanos e aguçando o conluio público do estado com os narcotraficantes. O último mandato presidencial sob Peña Nieto foi um retorno ao domínio do PRI no país, mas significou apenas uma mudança de partido, não de política. Tanto a presidência de Peña Nieto quanto a de Calderón foram marcadas pelo desaparecimento estimado de mais de 35.000 pessoas, principalmente jovens homens/meninos, mas também muitas mulheres. Muitos estimam que esses números sejam muito maiores no final de quatro décadas de violência desenfreada de drogas no país. No entanto, poucos registros, se é que existem, foram mantidos desde que o aumento da violência do narco-estado cresceu no final dos anos 80. Também é importante notar que a eleição de Peña Nieto foi repleta de alegações de fraude e muitos acreditam que a AMLO também foi o verdadeiro vencedor do voto popular em 2012.

Agora, temos MORENA, uma história quase de conto de fadas se você vive, como a maioria de nós, em um país onde duas partes cuidadosamente orquestram a transferência do poder público de quatro anos em quatro anos. As raízes do partido estavam em uma organização sem fins lucrativos criada em 2011 e formalizada como uma entidade política em 2014. Imagine isso - um partido com sete anos de existência, vencendo suas eleições presidenciais nacionais com maiorias no Senado e no Congresso. O México está à beira de talvez o tipo de mudança que a Venezuela viu após a vitória do recém-formado Movimento Quinta República, que mais tarde se fundiu ao Partido Socialista da Venezuela, com Chávez em 1999 ou a vitória do Brasil Luiz Inácio “Lula” da Silva com o Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições de 2003.

AMLO já está botando pra quebrar. Ele colocou à venda o jato opulento em que Peña Nieto costumava andar por aí, desperdiçando milhões de dólares nas mãos do povo mexicano. Ele abriu o palácio presidencial, Los Pinos, como um local público para as pessoas visitarem. Ele aumentou o salário mínimo nacional (dobrando a quantia em alguns estados do norte), tomou medidas para reduzir os salários exagerados e nepotistas dos juízes no país e encheu seu gabinete de pessoas que procuravam fazer mudanças para as massas, incluindo oito mulheres. Tenha isso em mente: ele está no cargo há exatamente 31 dias (a partir de 1º de dezembro). Dito isto, seu novo plano de segurança para o país exige aumentos na presença de policiamento local, federal e militar, um movimento amplamente criticado por sua base.

Entendemos que AMLO não é um marxista-leninista revolucionário. O que a AMLO pode ser é um descanso muito necessário para o povo mexicano e a América Latina à medida que nos organizamos em direção à revolução. Como podemos criar uma resistência formidável ao imperialismo capitalista ou trazer mudanças socialistas quando o seu povo for violentamente desaparecendo, obrigado a trabalhar em campos de papoula e quando jornalistas são assassinados à vista de todos com total impunidade? Esses novos ares e o movimento para longe da violência generalizada significam que o México pode fortalecer os laços com outros estados progressistas, talvez até mesmo saindo de debaixo do controle dos EUA. Este novo mandato presidencial já trouxe um movimento significativo em direção à mudança no México. Nós da ANTICONQUISTA recebemos a AMLO de braços abertos e continuaremos a apoiar ou criticar sua presidência com o mesmo amor que temos por todos os povos do Terceiro Mundo e seu direito à autodeterminação.

Na Guatemala, o governo do presidente Jimmy Morales continuou a descer o país ainda mais para a pobreza e a violência. Sua administração, que foi acusada de aceitar subornos em troca de tarifas mais baixas e impostos sobre importações estrangeiras, desfrutou de relações amistosas com países reacionários como os Estados Unidos, Israel, Taiwan e Coréia do Sul. O governo de J. Morales foi a segunda nação a reconhecer Jerusalém como a capital de Israel (a Palestina ocupada) dois dias depois dos Estados Unidos. A violência e a pobreza ficaram tão ruins que milhares deixaram o país em total o êxodo.

Em Honduras, o governo de Juan Orlando Hernández continuou a governar com mão de ferro, reprimindo protestos estudantis contra seu governo durante todo o ano com balas e gás lacrimogêneo. Enquanto isso, seu irmão Tony enfrentou acusações de tráfico de drogas e foi implicado em uma quadrilha de drogas multinacional envolvendo cartéis de drogas colombianos e mexicanos. Como a Guatemala, a pobreza e a violência sob o capitalismo tornaram a vida tão insuportável que milhares também participaram do êxodo da América Central em direção aos Estados Unidos. O ex-presidente Manuel Zelaya, um social-democrata progressista, pediu uma insurreição nacional contra o direitista Hernández e seu Partido Nacional, sinalizando um movimento positivo em direção à esquerda.

Em El Salvador, as bases da Frente Farabundo Martí para a Liberação Nacional (FMLN) lutaram para expulsar as facções de direita, vendidas, do partido que controla o aparato estatal. Com as eleições presidenciais logo adiante, em fevereiro de 2019, a FMLN continuou a se polarizar: a esquerda socialista, anti-imperialista de um lado e a direita liberal, corrupta, do outro. Conseqüentemente, o partido Alianza Republicana Nacionalista (ARENA) se rebatizou como um partido “populista” e “nacionalista” lutando contra a “corrupção”, ganhando mais popularidade com pessoas que se cansaram da falta de movimento do FMLN em direção ao socialismo. ARENA foi o mesmo partido que esteve no poder durante os anos 80, quando ditaduras militares atingiram o país, levando a uma guerra civil. Se a FMLN não agir rapidamente para purgar seus elementos direitistas e promover o socialismo, El Salvador poderá retornar às mãos da direita.

Na Nicarágua, o partido governista Frente Sandinista de Liberação Nacional (FSLN) e o presidente Daniel Ortega enfrentaram um dos maiores desafios em 2018. Durante o final da primavera e início do verão, protestos violentos apoiados pelo Ocidente foram organizados no país em uma tentativa de empurrar os sandinistas para fora do poder. Semelhante à Venezuela, os protestos foram marcados como “manifestações pacíficas e pró-democráticas” contra a chamada “ditadura”. Semanas depois, no entanto, os protestos cessaram depois que Ortega fez concessões menores em relação ao sistema tributário e previdenciário do país. Depois de superar uma violenta tentativa de golpe apoiada pelos EUA, a Nicarágua tornou-se vítima de sanções brutais na forma da Lei NICA. O projeto de lei visa forçar a saída dos sandinistas do poder, arruinando a economia do país.

Em Belize e na Costa Rica, há muito saudados como “paraísos progressistas” no meio da violenta América Central, o narcotráfico continuou a se tornar um grande problema. As rotas do narcotráfico que antes estavam confinadas ao Triângulo Norte (Guatemala, Honduras, El Salvador) agora se expandiram para esses destinos turísticos populares, trazendo todos os tipos de problemas para esses países. À medida que as drogas se instalaram, também houve crime e prostituição forçada.

No Panamá, a questão dos paraísos fiscais e a corrupção financeira continuaram a ser um problema. Isto é principalmente devido à sua posição geográfica estratégica entre os oceanos Atlântico e Pacífico, bem como a grande presença de cobertura de fundos norte-americanos e europeus que escondem milhões de dólares naquele país. As comunidades negras e indígenas do Panamá também lutaram por suas terras ancestrais nas extremidades leste e oeste do istmo, enquanto as multinacionais brancas continuavam a assumir suas terras pelo chamado "desenvolvimento". Enquanto isso, o Panamá sofreu numerosas greves e protestos em 2018 devido a remuneração injusta e questões trabalhistas.

AMÉRICA DO SUL

Em nossa análise política da América do Sul no final de 2017, expressamos que o experimento social-democrata da região estava em uma encruzilhada. Venezuela, Bolívia, Equador, Brasil, Argentina, Uruguai e movimentos revolucionários, como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), tentaram transformar a atual configuração política e econômica da região usando estruturas democráticas liberais. Na Venezuela e na Bolívia, esse processo sofreu uma transformação mais radical com tentativas de reformar as estruturas estatais desses países. No entanto, eles ainda são forçados a operar dentro dos limites do mercado capitalista mundial sufocando uma transição completa para o socialismo.

No Brasil, após o experimento social-democrata do PT com os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, as elites históricas do país recuperaram o controle do Estado usando manobras políticas legais. Neste ano eleitoral de 2018, as elites parasitas agiram rapidamente para aniquilar os partidos e líderes progressistas de tendência socialista do país. Lula foi preso em abril sob o pretexto de corrupção política, apesar da falta de provas e de várias discrepâncias legais. O objetivo era desqualificar Lula, o líder político esquerdista mais popular do país por todas as indicações, da eleição presidencial de outubro. A conseqüência foi a eleição de Bolsonaro, um político de extrema direita comparado a Donald Trump em seu estilo de governo. Apesar do fato de que o experimento social-democrata no Brasil tirou milhões da pobreza, as estruturas estatais capitalistas mostraram-se profundamente enraizadas para provocar uma transformação estável e duradoura da sociedade. O Racista, Bolsonaro, toma posse no dia 1º de janeiro, mas estamos certos, como já vimos muitas vezes antes, irá se deparar com a plena resistência do povo brasileiro.

Na Colômbia, também mostrou promissora e estava perto de conseguir uma reforma social-democrata com Gustavo Petro nas eleições presidenciais que ocorreram em abril. Foi a primeira vez, desde o líder político liberal Jorge Eliécer Gaitán, que um político anti-estabilshment estava prestes a tomar o poder do Estado, perdendo por pouco para o candidato da extrema-direita Iván Duque. Petro, um liberal progressista, teria sido uma pausa bem-vinda das políticas agressivamente elitistas da aristocracia capitalista do país. Seja através de fraudes sistemáticas ou canalização indireta de fundos para candidatos de direita, as elites políticas dos Estados Unidos e da Colômbia bloquearam quaisquer tentativas de reformas, sem falar na mudança revolucionária. Apesar da falta de poder político das massas empobrecidas do país, ainda existem movimentos e partidos revolucionários, como as FARC desmobilizadas, que continuam pressionando por uma transformação radical no país.

Na Venezuela, passaram 20 anos desde que a Revolução Bolivariana liderou a luta contra o capitalismo e o imperialismo na região. Apesar dos sérios reveses, principalmente devido à interferência imperialista e às elites parasitárias, o governo de tendência socialista da Venezuela foi reeleito popularmente em maio. Mais de oito anos de crise econômica criada artificialmente, incluindo sanções generalizadas lideradas pelos Estados Unidos, fizeram com que alguns venezuelanos migrassem para fora do país. Naturalmente, esses números tendem a ser exagerados pelos meios de comunicação ocidentais, a fim de despertar a condenação internacional contra o governo democraticamente eleito. O governo do país, liderado pelo presidente Nicolás Maduro, continua a trabalhar para alcançar um estado socialista através de reformas radicais e progressistas.

O processo revolucionário da América do Sul continua a ser dominado por projetos social-democratas. Tal como acontece com o nosso prognóstico em 2017, a região ainda se encontra numa encruzilhada em que os líderes, movimentos e governos revolucionários terão de decidir sobre uma continuação incerta das reformas social-democratas ou da reestruturação socialista revolucionária a longo prazo.

Diáspora latino-americana no Reino Unido e nos Estados Unidos

Não é de conhecimento comum, mas no Reino Unido, principalmente em Londres, existe uma grande comunidade latino-americana e caribenha. A maioria reside nos bairros da classe trabalhadora, ao lado de outras comunidades de imigrantes que foram deslocadas à força de suas terras natais. Os ativistas da comunidade da América Latina e Caribe, incluindo ANTICONQUISTA, se uniram e marcharam durante a visita de Trump em julho. Não apenas para mostrar nossa oposição às políticas imperialistas de Trump, mas também contra o governo imperialista britânico e em solidariedade com nossas famílias Latinas nos Estados Unidos.

Houve também constantes protestos, greves e manifestações dos Latinos contra condições injustas de trabalho, racismo e discriminação. Um esforço está sendo pelo Salário London Living. A campanha procura chamar a atenção para os salários abaixo do padrão que a maioria das pessoas latinas ganha. Isso significa que eles não podem cobrir seus custos básicos de vida e nos obriga a ter múltiplos empregos. No norte e no sul de Londres, nosso pessoal também vem organizando e fazendo campanha contra conselhos locais que estão tentando se livrar de centros importantes em nossas comunidades. Esses locais de encontro são onde as pessoas Latinas se reúnem, se socializam e têm seus próprios negócios. Eles também servem como fontes confiáveis ​​de aconselhamento para os direitos de imigração, moradia e assistência social/benefícios.

A luta contra a gentrificação também continua. A campanha pelas vítimas de Grenfell continuou, mas, devido à barbárie do governo britânico, a maioria dessas famílias ainda vive em acomodações temporárias. Essa “acomodação temporária” é realmente um eufemismo para a miséria, já que a maioria das famílias está espremida em quartos de hotel. Faz um ano e meio desde o incêndio em Grenfell e fica claro que a indiferença do governo em relação à vida dos imigrantes da classe trabalhadora continua forte.

Nos Estados Unidos, Trump continua suas políticas xenofóbicas e racistas contra o povo latino-americano. Dentro das fronteiras dos EUA e de fora deles, o negócio é normal para Trump. 2018 foi um ano particularmente sombrio, dadas as histórias sórdidas de muitos imigrantes mortos em detenção - alguns com apenas seis anos de idade - pela Patrulha de Fronteira dos EUA. Outros foram baleados à queima-roupa como animais nas regiões fronteiriças, pois fugiram de estados violentos e neoliberais no México, Guatemala e Honduras. A administração de Trump também foi trazida para o centro das atenções internacionais, à medida que as imagens de crianças pequenas sendo separadas de suas famílias e sendo trancadas em gaiolas ganhavam manchetes - uma política também seguida por seu antecessor, Barack Obama.

Trump também acenou com seus rivais executivos que puseram fim às permissões de trabalho condicional semi-legais (ainda que reformistas) para migrantes salvadorenhos sob Status Temporário Protegido, TPS, e as crianças sem documentos que foram trazidas para os EUA, referidas como Dreamers, sob a Ação Diferida para as Chegadas Infantis, DACA. Agora, os democratas estão buscando negociar uma continuação da DACA em troca de US $ 5 bilhões em fundos públicos para a fronteira dos EUA no sul. Soa muito parecido com o Ato de Imigração e Controle de Reforma, de Ronald Reagan, de 1986, exceto que, pelo menos, recebemos a cidadania. A iteração atual concede licenças de obras temporárias e reversíveis de US $ 5 bilhões para militarizar ainda mais a fronteira - parece um comércio totalmente justo.

A renovação do NAFTA, renomeada como US-México-Canadá-Acordo, USMCA, e a “sweatshopization” (fábrica de suor) contínua do México também foi discretamente aprovada como um dos atos finais de Peña Nieto no cargo. Além dessa ladainha de ataques, Trump continua a atacar a última caravana de migrantes que chegou a Tijuana, formada principalmente por migrantes hondurenhos. Mais recentemente, pulverizando famílias inteiras e crianças com gás pimenta.

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